As ra­zões de fundo da po­lí­tica agres­siva do im­pe­ri­a­lismo são per­ver­sa­mente ilu­didas e fal­si­fi­cadas pela classe do­mi­nante, que sempre in­voca o mais acri­so­lado amor aos «di­reitos hu­manos» e ter­rí­veis «ame­aças» à se­gu­rança das «de­mo­cra­cias li­be­rais e plu­ra­listas» para jus­ti­ficar a cor­rida aos ar­ma­mentos, so­fis­ti­cadas ope­ra­ções de «mu­dança de re­gime», mul­ti­pli­cação de ope­ra­ções mi­li­tares por todo o mundo. A re­a­li­dade é bem di­fe­rente.

Con­fir­mando aliás as aná­lises e pre­vi­sões do XXI Con­gresso sobre o sis­tema de poder norte-ame­ri­cano, po­demos afirmar que a si­tu­ação in­ter­na­ci­onal se agrava de dia para dia com a ad­mi­nis­tração Biden e a sua fre­né­tica ac­ti­vi­dade para reunir sob o seu co­mando os ali­ados da NATO, da UE, da re­gião Ásia-Pa­cí­fico e de tudo o que há de mais re­ac­ci­o­nário por esse mundo fora.

O que está a passar-se com a NATO é exem­plar. Dou­trina mi­litar cada vez mais agres­siva. Brutal au­mento de des­pesas mi­li­tares. Pros­se­gui­mento da ca­val­gada para o Leste da Eu­ropa pro­cu­rando abo­ca­nhar novos países como a Bi­e­lor­rússia e de­sa­fi­ando a Fe­de­ração Russa. Exer­cí­cios mi­li­tares que são au­tên­ticos en­saios de in­vasão. De­cla­ra­ções cada vez mais in­so­lentes de in­ge­rência nos as­suntos in­ternos de países que re­sistem em sub­meter-se e de­fendem a sua so­be­rania. A este res­peito a Ci­meira da NATO anun­ciada para 14 de Junho me­rece par­ti­cular atenção, até porque está a ser pre­pa­rada num quadro de in­ten­sís­sima pro­pa­ganda e acom­pa­nhada de uma ir­res­pon­sável es­ca­lada de con­fron­tação com a China e a Rússia. E tanto mais quanto Por­tugal está sé­ri­a­mente com­pro­me­tido com a di­nâ­mica desta ali­ança agres­siva, numa au­ten­tica de­riva de su­jeição na­ci­onal em con­fronto com a Cons­ti­tuição – que aliás pre­co­niza a dis­so­lução dos blocos po­lí­tico-mi­li­tares – e que se ex­pressa no ver­go­nhoso se­gui­dismo aos EUA e à UE em ques­tões como as re­la­tivas à Ve­ne­zuela, à Pa­les­tina ou mesmo a Mo­çam­bique, com o Mi­nistro da De­fesa a in­te­grar-se nas cam­pa­nhas que visam a in­tro­dução a todo o custo de forças mi­li­tares de grandes po­tên­cias no norte do país. A co­ber­tura da co­mu­ni­cação so­cial, par­ti­cu­lar­mente a do Te­le­jornal do pas­sado dia 28, às grandes ma­no­bras mi­li­tares da NATO que estão a de­correr ao largo das costas de Por­tugal, é par­ti­cu­lar­mente in­qui­e­tante.

O que ex­plica tanto mi­li­ta­rismo, tanta agres­si­vi­dade, tanta in­ge­rência, tão ampla co­ber­tura de bases e ali­anças mi­li­tares im­pe­ri­a­listas por esse mundo fora? In­se­gu­rança e medo, muito medo da re­sis­tência e da luta dos tra­ba­lha­dores e dos povos, luta que é ainda glo­bal­mente de­fen­siva mas que nunca parou, e que a agu­di­zação das con­tra­di­ções do ca­pi­ta­lismo con­du­zirá ine­vi­ta­vel­mente a grandes ex­plo­sões de des­con­ten­ta­mento e re­vo­lu­ções so­ciais. É para as su­focar que a classe do­mi­nante se pre­para. É da sua na­tu­reza.

Pelo nosso lado, con­fi­amos que, sem dú­vida à custa de du­rís­simas lutas, mais cedo do que tarde uma vi­ragem po­si­tiva na si­tu­ação in­ter­na­ci­onal acon­te­cerá. É para aí que apontam as re­sis­tên­cias de Cuba e da Ve­ne­zuela, a he­róica luta do povo pa­les­ti­niano, a ex­tra­or­di­nária mo­bi­li­zação po­pular na Colômbia, a vi­tória elei­toral do povo do Chile, as grandes lutas cam­po­nesas na Índia, a der­rota do im­pe­ri­a­lismo na Síria. E tantas e tantas ou­tras lutas, in­cluindo a nossa pró­pria luta em Por­tugal.

“Avante!”, 2 de Junho 2021