
É os momentos difíceis que se vêem os amigos, diz o povo na sua sabedoria tantas vezes invocada, poucas vezes respeitada e raramente seguida.
Momento difícil vive a República Portuguesa, atacada por fogos traiçoeiros cujas causas inspiradoras e os objectivos com eles perseguidos dificilmente serão do conhecimento público e virão a ser alvo de apuramento levado às últimas consequências, como é de tradição neste país quando se trata de assuntos delicados e trágicos. Especula-se sobre as percentagens possíveis de cada uma das fontes de incêndios, tecnocraticamente arrumadas; captura-se aqui ou ali um suspeito de fogo posto, normalmente «pirómano», «doente mental» ou «cidadão irresponsável», qualificações que cumprem bem as acomodações de consciências asseguradas pelo sempre bem-vindo bode expiatório. E quando não houver mais nada para arder por ora e outras desgraças servirem de pasto ao vampirismo da comunicação social, arrasados os bombeiros que vão sendo levados nos andores da caridadezinha, inventariam-se os milhões de prejuízos – a somar aos milhares de milhões para os banqueiros e outros tantos ou mais sugados por Bruxelas – e passamos adiante: para o ano haverá outra «época de incêndios», com anúncio prévio e medidas oficiais. É assim que tem sido; haja alguém que consiga romper o ciclo vicioso para o país e muito virtuoso para os verdadeiros incendiários.
Uma situação de «terrorismo», qualificou, e com toda a propriedade, o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses. Não existe palavra com tanta actualidade e mais adequada ao que está a passar-se com os incêndios em Portugal, por muito que tal identificação seja omitida, vá lá saber-se porquê. No entanto, os dramas humanos e económicos do que vem acontecendo traduzem uma imensa tragédia que avança perante a impunidade absoluta – e provavelmente eterna – dos autênticos terroristas.
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