Antes que, por cá, a gente se tenha lembrado de reformar-se do governo – esse demónio – o Papa reforma-se de Deus. Horas depois, estalam mesmo dois raios sobre a Basílica de S. Pedro. Será isto, coincidência ou um sinal de Deus?
Não responda quem desconheça os mistérios desígnios de Deus. Pois no adiante, se impõe o verso dessa estória. Mas, comecemos antes do início, como mandam as narrativas.
Nem a frescura da neve, nem os sois tíbios das palmeiras, nem o fogo do deserto consolaram Rei Salomão de tanto fastio. Nem sequer o amor ou o riso bastaram, faltava sempre algo na sua paz fatigada. Rei Salomão, sentindo-se angustiado decidiu regressar ao seu reino. Deus, o velho Deus, teria de escutá-lo. Um tormento interior o assolava:
– Senhor, tenho as águas dos rios, as flores e os pássaros, o vinho e a mulher, que incendeia a beleza e o paraíso e, às vezes, também o inferno. Falta-me algo formoso, algo com que viva, o espere ou sonhe, algo que me abrevie ou retenha, alma da saudade, vida da alegria, esse grande segredo que guardas em ti mesmo.