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a política de direita, governo psd/cds, off-shores, PCP, Política
Já não recordo o dia, mas durante uma das audições da Comissão de Inquérito à gestão do Banco Espírito Santo e do Grupo Espírito Santo, quando confrontado com perguntas sobre o recurso a advogados para operações de “engenharia fiscal” e uso de contas e empresas fictícias sedeadas em paraísos fiscais off-shore, o banqueiro que estava sentado como depoente responde à pergunta: “e são normais honorários desta ordem?” (julgo que tinham sido 5 milhões pagos à sociedade em que trabalhava Ana Bruno – advogada) – da seguinte forma: “se pagámos esses honorários à advogada é porque ela nos fez poupar muito mais em despesas fiscais.” A citação é feita de memória, mas anda perto das palavras utilizadas.
Isto demonstra bem como os grupos monopolistas e grandes grupos económicos e financeiros manipulam as brechas da lei, usam e abusam de empresas e veículos fictícios, fazem circular capital, créditos, pagamentos, para cortar nas suas responsabilidades fiscais. A tese de que o capitalista ajuda a desenvolver o país desmorona-se se olharmos para as contas do primeiro capitalista que apanharmos. Na verdade, à primeira oportunidade, os grupos económicos e os seus homens de mão, colocam toda a riqueza amassada no país, fora dele. Não há espaço para ingenuidades nem canduras: uma empresa ou uma conta sedeada em off-shore não é ilegal e muitas das utilizações que lhe são dadas não são ilegais, mas não deixam de ser um recurso claro para escapar a dois mecanismos fundamentais: o da supervisão e fiscalização à origem dos capitais e o da fuga e evasão fiscal. Ou seja, ninguém coloca o dinheiro numa conta off-shore só porque os euros se dão melhor em clima tropical, como o das Bahamas – território para onde sabemos agora ter sido feita a transferência de mais de 4 mil milhões de euros correspondente à venda da PT Portugal. Ninguém coloca o dinheiro nas Ilhas Virgens Britânicas só porque se sente melhor com o dinheiro no meio do mar. A verdade é que esses territórios são uma zona livre de regras e assumem o compromisso com os seus “clientes” de não partilhar a informação das suas contas com os órgãos de supervisão dos países de origem do capital.