4 – O POPULISMO “ERUDITO”
O populismo é uma máscara. Eis algumas: a do justicialista, a do moralista, a do “erudito”. A ciência económica do populismo “erudito”, resume-se a que salários e pensões têm de descer, direitos laborais serem suprimidos – a “flexibilização” – para os lucros subirem e se tornarem “atrativos para o capital”. Além disto são incapazes de acertar ou cumprir as suas próprias previsões.
Escutados sem contraditório e mesmo com veneração, a comunicação social controlada exibe uma legião de propagandistas alinhados com o fundamentalismo neoliberal, cuja erudição se manifesta prioritariamente em manipular dados económicos.
No seu catecismo está inscrito como dogma que tudo que é público é mau, ineficiente. O que dá lucro deverá ser privatizado, quanto aos sectores socialmente apoiados, terão rentabilidade garantida à custa do OE e dos preços aos utentes. É esta a sua versão de eficiência: monopólios, oligopólios, capitalismo rentista a coberto da concorrência “livre e não falseada”.
Entregar as funções económicas do Estado a interesses privados, liquidar as funções sociais, são objetivos prosseguidos pelo governo anti Constituição PSD/CDS, insistentemente veiculados como “mudança de paradigma“, “reformas” e “ímpeto reformista”.
Do alto da sua arrogância o populismo “erudito” manipula dados. Para “provar” a insustentabilidade do sistema de pensões inclui neste grupo apoios sociais que não fazem parte do sistema contributivo. São as prestações sociais para minorar a miséria provocada pelo sistema capitalista a centenas de milhares de pessoas. Apesar disto afirmam: “as pensões e salários pagos pelo Estado ultrapassam os 70% da despesa pública, logo é aí que se tem que cortar”.
Estes “sábios” mentem, ao omitir que naquele valor está incluída receita de impostos e contribuições [1] . Não deixa de espantar o afã com que defendem como “sem alternativa”, medidas que fomentam o desemprego, o empobrecimento, a exclusão do sistema produtivo, pelo desemprego e pela emigração, de centenas de milhares de trabalhadores.
As despesas do Estado, desde que orientadas por adequado plano económico, como a Constituição prescreve, representam consumo e investimento, mas estes objetivos são relegados perante o desiderato de “honrar os nossos compromissos, custe o que custar”, para com a agiotagem financeira, revestida com a dignidade do deus “mercados”. Perante isto, as funções sociais do Estado e direitos laborais, fundamentos da própria cidadania, são considerados “privilégios” e apresentados como vícios de subsídio dependência do povo português – tese racista, cara ao populismo “erudito”.
Concentrando atenções nas pequenas regalias dos menos favorecidos, incutem-se sentimentos sociais negativos para escamotear, as rendas e lucros monopolistas, os SWAP, as PPP e concessões, em que os interesses do Estado e dos contribuintes são defraudados. Tal como são ignoradas as abismais remunerações dos corpos executivos das empresas privatizadas e dos oligopólios, a corrupção, a livre circulação de capitais, as regras da UE totalmente inadequadas ao nosso desenvolvimento económico e social. Os escandalosos benefícios fiscais aos grandes grupos económicos são verdadeiras evasões fiscais legalizadas. [2]
O rigor orçamental alicerçado na ditadura burocrática da UE é a roupagem para um crescimento baseado em altos lucros e baixos salários, afinal características estratégicas do fascismo salazarista. Revestindo os paramentos de uma falsa ciência económica construída na base de axiomas que a evidência demonstra errados, [3] os populistas “eruditos” assumem a missão de convencer cidadãos impreparados, levados pelo medo dos “mercados”, de que “não há alternativas” e devem submeter-se à “superior capacidade intelectual” dos “eruditos” e às políticas de saque do neoliberalismo…
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