Na sequência da passagem de Durão Barroso da Comissão Europeia para a Goldman Sachs, a expressão «portas giratórias» (do inglês «revolving doors») passou a fazer parte do quotidiano jornalístico. A expressão aplica-se ao fluxo habitual de dirigentes políticos ou altos funcionários das instituições europeias para as grandes empresas multinacionais e vice-versa e indicia uma relação promíscua entre o poder político e os interesses privados.
Mas como já estamos habituados, os órgãos de comunicação social ao serviço do capital e as instituições políticas da UE, com especial destaque para o Parlamento Europeu, optam, de forma não inocente, por pegar nestes assuntos de forma totalmente superficial, privilegiando o tratamento personalizado, o caso isolado desta ou daquela personalidade política, como se estivéssemos em presença de um caso de excepção, ou de uma situação de abuso, passível de ser resolvida com uma pequena melhoria do acervo regulatório.
Não pretendemos aqui minorar o caso concreto do ex-presidente da Comissão Europeia. O que nos parece relevante é colocá-lo no quadro mais amplo da completa permeabilidade existente entre a Comissão Europeia e o grande capital, de que Durão Barroso é naturalmente um exemplo paradigmático. E já agora, é bom referir que, para além da Goldman Sachs, Durão Barroso passou igualmente a fazer parte do conselho diretivo do Grupo Bilderberg e foi nomeado presidente do comité de honra do European Business Summit, duas organizações onde estão representados os lóbis mais poderosos do grande capital europeu e norte-americano. Curiosamente (ou talvez não) esta informação não passou na comunicação social.