Partindo do facto revelado na semana passada – o de que, na actualidade, há uma maioria de hospitais privados relativamente aos públicos (com dois a mais no privado) -, confirmamos a apreensão que este estado de coisas desencadeia.
Quando Cavaco Silva usou a sua maioria absoluta para, em 1990, impor a Lei de Bases da Saúde, escancarou, à sorrelfa (como sempre foi o seu jeito político), as portas ao negócio privado da Saúde no nosso País. E os tubarões da tradição não perderam tempo nestes quase 30 anos, nomeadamente os grupos Mello/Saúde e Espírito Santo Saúde, a que se juntaram os grupos Lusíadas Saúde (pertencente à Amil, a maior empresa privada brasileira da Saúde) e Trofa Saúde, todos em expansão.
Nestes 30 anos foram construindo um império de unidades privadas de Saúde, concomitantes com intensivas e intermináveis campanhas de «seguros de Saúde» promovidas em bancos, nas seguradoras ou nas mais variadas instalações comerciais e uma indispensável deterioração do SNS, que foi desviando os doentes para as unidades privadas por manifesta incapacidade dos serviços públicos. Assim foram prosperando, com os investimentos desviados do SNS para pagar uma miríade de serviços requisitados ao «sector privado», ganhando lentamente ascendentes sobre o sector público e às custas deste (referimo-nos às custas materiais).