Numa altura de grandes dificuldades das famílias, face ao aumento das taxas de juro e das prestações do crédito à habitação, a Caixa Geral de depósitos anunciou lucros de 842 milhões de euros em 2022.
No imediato nos questionaram “então, e dos lucros da Caixa não falam?”
Nós falamos e, por várias vezes, propusemos a fixação de um spread máximo pela CGD para o crédito à habitação.
Os mesmos de sempre rejeitaram porque essa redução ia obrigar toda a banca também a reduzir e a ter de cortar nos seus lucros.
Rejeitaram estas, como todas as outras as propostas do PCP para apoiar as famílias e que coloquem em causa os lucros da banca.
Porque para eles não pode colocar em causa o lucro e a especulação no sector financeiro.
O PCP considera que a Caixa Geral de Depósitos deve estar ao serviço do país e não da especulação e, neste momento, tem de servir ara conter o aumento dos encargos suportados pelas famílias com o crédito à habitação.
O dinheiro é demasiado importante para deixar a sua gestão aos bancos privados. A história demonstra que os bancos privados, mais cedo que tarde, tornam-se eles próprios a fonte de problemas e de instabilidade.
Ennio Leanza/Keystone / via AP
«Como a burguesia supera essas crises? Por um lado, pela destruição forçada de uma massa de forças produtivas; por outro, conquistando novos mercados e explorando mais os antigos. A que isso leva? Preparar crises mais gerais e formidáveis e diminuir os meios para preveni-las.»
Manifesto do Partido Comunista, 1848, Karl Marx – Friedrich Engels
O ano 2023 começou com mais uma crise financeira, rotulada já como a maior crise bancária desde 2008. Dois importantes bancos norte-americanos, o Silicon Valley Bank (SVB) e o Signature Bank entraram em colapso. Dias mais tarde, o Crédit Suisse era resgatado por outro banco, com o aval do governo. Ninguém pode prever se a turbulência se ficará por aqui ou se mais episódios estão na calha. O que sabemos é que, apesar de todas as falácias sobre regulação, já foram gastas mais uma vez, somas colossais de fundos públicos para salvar bancos que supostamente, estavam bem capitalizados e supervisionados.
É sintomático que a falência tenha ocorrido no SVB, um banco de referência da indústria de tecnologia (e principalmente das startups). Um banco dito sólido, mas que foi aniquilado em poucas horas depois de uma corrida aos depósitos assim que foram anunciadas as primeiras perdas. Os pedidos de levantamento totalizaram só no dia 9 de março a soma de 42 mil milhões de dólares. Esta foi a segunda maior falência de bancos na história dos EUA (desde o Washington Mutual em 2008). Pouco tempo depois, em 12 de março de 2023, o Signature Bank (líder em empréstimos em criptomoedas) seguiu o mesmo caminho, colapsando na sequência de mais uma corrida aos depósitos que acabaria por provocar a terceira maior falência bancária da história dos EUA. O Credit Suisse faleceu uns dias mais tarde, a 19 de março, quando foi comprado a preço de saldo pelo UBS, outro banco suíço, sob os auspícios do governo que fez questão de acompanhar a prenda com uma almofada financeira de 108 mil milhões de dólares.
O Banco de Portugal informou esta quinta-feira que as instituições bancárias que operam em Portugal «reduziram» mais de 3000 trabalhadores e fecharam acima de 350 agências nos últimos dois anos.
Créditos/ radioregional.pt
Segundo o Banco de Portugal (BdP), em 2021 havia um total de 58 859 trabalhadores nos bancos que operam em Portugal (considerando a actividade interna e externa), menos 3027 do que em 2020 e o número mais baixo desde o início da série, em 1990.
Em Portugal trabalhavam 43 726 pessoas em 2021, menos 2163 do que os 45 889 de 2020 e também o número mais baixo desde o início da série. O valor mais alto foi atingido em 1995, com 61 885 trabalhadores. À actividade externa dos bancos estavam afectos 15 133 trabalhadores no ano passado, contra 15 997 no ano anterior. É o valor mais baixo desde 2005.
Declaração de Jorge Pires, membro da Comissão Política do Comité Central, conferência de imprensa.
1 – Os últimos desenvolvimentos no sistema bancário em Portugal, nomeadamente o processo de recapitalização da Caixa Geral de Depósitos e a venda do Novo Banco à Lone Star, evidenciam o quadro de submissão do País às instituições da União Europeia e a perda de soberania nacional nos planos económico e financeiro.
A situação do sector bancário em Portugal está marcada pelas consequências do domínio político e económico alcançado pelo capital financeiro, fruto das políticas de capitulação da responsabilidade de PS, PSD e CDS-PP, que têm conduzido a uma crescente financeirização da nossa economia.
Uma banca dominada por interesses do grande capital, atolada em tráficos de influências, ilegalidades, práticas dolosas, deploráveis comportamentos éticos, saque pessoal de rendimentos e capitais, negócios obscuros e ilícitos, numa lastimosa sucessão de escândalos financeiros.
O PCP anunciou hoje a entrega de uma proposta na Assembleia da República para criar no parlamento uma Comissão Eventual para a avaliação e acompanhamento do endividamento público e externo do país. João Oliveira em declarações à imprensa explicou que o objectivo desta proposta é a de “dar um tratamento institucional, ao nível da Assembleia da República, a um dos constrangimentos centrais que hoje se coloca ao país, bem como dos impactos da submissão do euro e do controlo da banca pelos mercados monopolistas”.
Disseram-te que viveste acima das tuas possibilidades. Que tinham gasto o dinheiro dos teus impostos em investimentos públicos. Que tinhas direitos a mais. Que não trabalhavas o suficiente. Os poderosos deste país, com a ajuda do PS, do PSD e do CDS, fizeram-te uma verdadeira “inception”. Pouco a pouco, conseguiram inculcar-te a ideia de que o Estado é uma entidade estranha nas relações sociais, que os teus direitos são caprichos, que o teu tempo todo – livre ou de trabalho – pertence ao patrão, que as escolas são para quem pode pagar, que os filhos dos pobres nasceram para obedecer e os dos ricos nasceram para mandar. No essencial, pouco a pouco, transformaram o pensamento dos trabalhadores no pensamento de um patrão.
E nada pior para um trabalhador do que pensar pela cabeça do patrão. Porque quanto mais igual for o pensamento, mais diferente será o rendimento.
Essa injecção de ideologia burguesa afecta-nos a todos, rodeia-nos, cerca-nos e infecta-nos. É o pensamento dominante, a lógica dominante e a cultura dominante, a hegemonia. E nenhum de nós lhe é imune. Os ídolos, os exemplos, os elementos de diversão, a educação, o funcionamento das empresas privadas e a cultura do indivíduo, o culto do consumo e a igreja da exploração entram-nos pela vida adentro, mesmo sem pedir licença e sem convite.
A banca é o coração do sistema financeiro, mas o sistema financeiro não se resume à banca. Inclui as seguradoras, os fundos de investimento mobiliário e imobiliário, as sociedades gestoras de fundos de pensões e a as sociedades gestoras de património (fortunas). Em Portugal, os cinco maiores bancos têm posições dominantes em cada um dos segmentos do setor financeiro. Em 2011, os recursos controlados pelo setor financeiro atingiam 345.384 milhões € (2 vezes o PIB de 2011), cabendo aos cinco principais grupos bancários 77,9% deste total. E a banca detinha 58,9% dos recursos controlados pelo setor financeiro. Com a privatização dos seguros a Caixa perdeu uma parte de recursos. Devido à sua importância interessa analisar se a banca tem sido um fator de promoção do crescimento ou um fator de estrangulamento da economia.
A BANCA TEM CONTRIBUÍDO PARA AGRAVAR A CRISE E AS SUAS PRÓPRIAS DIFICULDADES
Segundo o Boletim Estatístico do Banco de Portugal, entre 2010 e Março de 2014, o crédito bruto concedido pela banca em Portugal diminuiu em 40.466 milhões € (-12.2%, passou de 331.089 milhões € para 290.623 milhões €). Neste mesmo período, as aplicações financeiras da banca em ativos financeiros disponíveis para venda, que têm como objetivo ganhos especulativos aumentaram em 18,4% (+10.430 milhões €). Não existiu dinheiro para a economia mas já existiu para aplicar nos mercados financeiros.
Se analisarmos o crédito pela dimensão das empresas concluímos, também segundo o Banco de Portugal, que foram as microempresas e as PME os setores atingidos pelos cortes de crédito. Entre 2010 e Julho de 2014, o crédito a 321.000 microempresas diminuiu 8,6%; o crédito a 39.000 pequenas empresas caiu 15,8%; o crédito a 6.000 medias empresas foi reduzido em 13,8%. Só o crédito às 1.000 grandes empresas é que aumentou 13,6% (+10.466 M€). A politica de crédito da banca estrangulou financeiramente as micro e as PME, e apoiou apenas as grandes empresas, o que contribuiu para agravar ainda mais a crise e falência de milhares de empresas. Se a analise for feita por setores da atividade económica, conclui-se que os mais afetados pela politica de corte de crédito da banca, foram as atividades produtivas. Entre Abril 2011 e Julho de 2014, o crédito à agricultura diminuiu 1,9%; e à indústria transformadora reduziu-se em 12,5%. Uma política de crédito que não serviu as atividades produtivas.
No quadro da concretização das conclusões do XIX Congresso do PCP e da resolução saída da reunião do Comité Central do PCP de 15 e 16 de Dezembro de 2013, que determina «o desenvolvimento, no ano de 2014, de uma acção nacional centrada na projecção dos valores de Abril e na afirmação da política patriótica e de esquerda com a promoção de um vasto conjunto de iniciativas que assinalam o 40.º aniversário do 25 de Abril, orientadas para afirmação das suas conquistas e valores e a sua projecção enquanto elementos estruturantes de um Portugal de progresso, desenvolvido e soberano», a Direcção da Organização Regional de Porto do PCP promoveu o Debate «Controlo público dos sectores estratégicos da economia. Condição para o desenvolvimento e soberania do País», na cidade do Porto.
Permitam-me antes de mais que agradeça a vossa presença e o conjunto de valiosos contributos para o debate público que aqui temos estado a realizar sobre o tema “Controlo público dos sectores estratégicos da economia. Condição para o desenvolvimento e Soberania do País”.
Como já foi afirmado anteriormente esta iniciativa do PCP insere-se nas comemorações do 40º aniversário do 25 de Abril e no ciclo de debates que está em curso sob o lema “Os valores de Abril no futuro de Portugal”. O tema que aqui trouxemos liga-se ainda de forma articulada com a política patriótica e de esquerda que o PCP propõe ao povo português, constituindo um dos seus seis eixos principais e responde, com particular acuidade, ao período complexo que vivemos em Portugal.
As diferentes intervenções aqui realizadas vieram confirmar o quanto ajustada e oportuna tem sido a intervenção do PCP, não apenas na denúncia e no combate às privatizações, mas também na afirmação de que não pode haver crescimento económico, desenvolvimento, emprego, soberania se os sectores básicos e estratégicos da nossa economia estiverem nas mãos dos grupos económicos, isto é, se estiverem a ser sacrificados os interesses nacionais em função do lucro desses mesmos grupos.
No decorrer do processo revolucionário iniciado com o 25 de Abril foram nacionalizados pelo Estado os grandes monopólios de capital privado nacional nos sectores chave da economia, como na banca, seguros, energia, transportes, telecomunicações, entre outros, na constituição de um poderoso sector empresarial do Estado, ainda reforçado pela participação no capital de numerosas sociedades que resultou indirectamente da nacionalização das empresas, especialmente dos bancos, que nelas detinham quotas e acções. A Constituição da República Portuguesa não só reconheceu essa realidade como a projectou, no quadro de uma economia mista, como um instrumento indispensável ao desenvolvimento do país.
Portugal não é suficientemente rico para sustentar esta banca privada.
O BPI apresentou há dois dias os seus resultados de 2012.
Teve 249 milhões de euros de lucros líquidos depois de em 2011 ter apresentado prejuízos de 285 milhões.
Afinal o que aconteceu de extraordinário em 2012, já que o crédito concedido em geral pelo BPI caíu 3,8% e o crédito às empresas caíu 10,3%?
O que aconteceu foi que o BPI teve, em 2012, 401 milhões de euros de ganhos em operações financeiras – mais 95% do que em 2011 – e destes 292 milhões de euros foram lucros com a venda de títulos da dívida pública na sua esmagadora maioria portuguesa.
Ao que chegámos, temos agora uma Banca que depois de salva e recapitalizada pelo Estado retira lucros fabulosos utilizando os títulos do Estado como garantia dos empréstimos que obtém a taxas baixíssimas do BCE e especulando com os mesmos títulos no mercado primário e secundário.
Os custos e a alegada insustentabilidade financeira do Serviço Nacional de Saúde (SNS) têm constituído a espinha dorsal d a argumentação usada por governos e partidos da área do poder para justificarem os cortes orçamentais que hipotecam o desenvolvimento do SNS, servindo de explicação para a contínua retirada de direitos aos cidadãos.
Na realidade, as transferências do Orçamento de Estado para o SNS têm vindo a diminuir drasticamente, sendo os governos muito criativos na invenção de múltiplas e enviesadas formas de o sub-financiar.
Se em 2010 foram transferidos do Orçamento de Estado para o SNS 8.848 milhões de euros, em 2012 essa verba diminuiu para 7.107 milhões, um corte de cerca de 20% (19,7%) – fonte: SNS – Orçamento de Estado 2012, Ministério da Saúde.
Contudo, o facto de sucessivos governos terem desenvolvido políticas fiscais laxistas ou favorecedoras das grandes empresas cotadas em Bolsa e desviado enormes somas para apoio a investimentos de prioridade mais que discutível – BPN e BPP, BCP, SIRESP, submarinos, “perdão fiscal” às mais valias da PT, do BES, da Jerónimo Martins, “off-shore” da Madeira, auto-estradas em excesso, contratos ruinosos nas PPP, “rendas” abusivas na energia, etc., – mostra que a apregoada insustentabilidade financeira do SNS, não pode ser, dessa forma, justificada, existindo muito dinheiro malparado que daria, caso as escolhas políticas fossem outras, para assegurar, sem dificuldade, o presente e o futuro do SNS.
É curioso que tão pouca gente se recorde agora do Tratado de Maastricht , o qual está a origem dos problemas actuais da União Europeia. Na base de muitas mentiras tenta-se fazer crer às pessoas que aquilo que acontece aos países que sofrem as maiores perturbações é que realizaram demasiada despesa pública social [NR] e que isso aumentou até níveis insuportáveis o peso da dívida pública, de onde deduzem a exigência de executar políticas de austeridade baseadas no corte de direitos e prestações sociais.
A realidade é outra e bem diferente: O que verdadeiramente fez com que crescesse a dívida pública (além do impacto mais recente da crise financeira internacional e da queda subsequente dos rendimentos públicos) não foi o incremento da despesa pública primária (ou seja, a associado a despesas correntes ou de investimento) e sim os recursos dedicados a pagar juros e a dívida que foi sendo necessária para enfrentar a dívida anterior.
Calcula-se que os Estados europeus vêm pagando à banca privada uns 350 mil milhões de euros por ano a título de juros desde que deixaram de ser financiados pelos seus antigos bancos centrais e depois pelo Banco Central Europeu (Jacques Holbecq e Philippe Derudder, ‘La dette publique, une affaire rentable: A qui profite le système?’ , Ed. Yves Michel, Pari´s, 2009). É esse, portanto, o verdadeiro fardo que agora lastreia as economia europeias e não o peso insuportável, como querem fazer crer, do Estado Previdência. Não podemos cansar de repetir que se os saldos primários que o Estado espanhol foi tendo desde 1989 houvessem sido financiados a uma taxa de juro de 1% por um banco central (como é lógico que deveria ter sido) o peso da dívida pública espanhola seria agora de 14% do PIB e não os 87% actuais (Eduardo Garzón Espinosa. ‘Situación de las arcas públicas si el estado español no pagara intereses de deuda pública’: http://eduardogarzon.net/?p=328 ). Essa é a demonstração concreta de que são os juros financeiros e não a despesa social a verdadeira origem da dívida, que se quer combater na base de cortes nos direitos e na democracia.
O Governo e a troika estrangeira que hoje regressa a Portugal, não podem ignorar a voz da revolta e do protesto das trabalhadoras e trabalhadores que no passado sábado, vindos aos milhares de todo o País, inundaram o Terreiro do Paço e o transformaram numa torrente de Povo contra o pacto de agressão imposto a Portugal pelas mãos do PS, do PSD e do CDS-PP.
O “FMI não manda aqui”, gritaram centenas de milhares no passado sábado.
Sim, senhores deputados, ouçam bem o Povo: nem o FMI, a União Europeia ou o Banco Central Europeu mandam nos trabalhadores portugueses; nem a Senhora Merkel, o seu Ministro das Finanças ou o alemão Presidente do Parlamento Europeu mandam em Portugal. Podem mandar ou comandar o Governo Português, mandar ou comandar os partidos que subscreveram o Memorando da Troika, mas nunca mandarão no nosso Povo, não conseguirão levar o nosso País ao declínio ou à pobreza generalizada, não conseguirão nunca fazer-nos regressar aos níveis de exploração e ao desprezo pelos direitos semelhante aos que existiam em Portugal há trinta e oito anos.
A capitalização da banca transformou-se num tema do quotidiano da velha Europa. O assunto domina os noticiários e não há comentador que se preze que o não traga à colacção. Disse-se mesmo que ontem, 26, seria o dia C – de capital, está visto – para a tomada de decisões históricaspara a zona euro. Dando de barato a classificação – tem havido tantos encontros históricos que a designação já virou anedota… –, importa reter um aspecto que até à data não suscitou, curiosamente, as atenções dos especialistas. Vejamos. A capitalização da banca, dizem-nos, é necessária, mesmo indispensável, para que os bancos mais expostos à dívida grega não ‘percam o pé’, digamos assim, e para que possam abrir o crédito tão necessário ao investimento. Coisa meritória, decerto, embora os ignorantes na matéria possam – e devam – interrogar-se:
– Quanto emprestou a banca aos gregos e quanto recebeu com os juros agiotas impostos à Grécia?
– O que vai deixar de receber é calculado em função dos lucros pornográficos que esperava arrecadar?
– Quanto «perdeu» a banca e quanto vai receber?
– E se a banca vai receber dinheiro do Estado, ou seja dos contribuintes, para emprestar aos contribuintes (particulares e empresas), ganhando obviamente com o negócio, por que hão-de os contribuintes financiar a banca para se financiarem a si próprios a mais alto preço?
– Sendo certo que é sempre o dinheiro dos contribuintes que está em jogo, e afirmando os governos que a sua máxima preocupação é o interesse nacional, por que será tão difícil mudar as regras de um jogo que só prejudica os contribuintes?
Segundo o Banco de Portugal, entre 2000 e 2010, a divida externa líquida do País, aumentou em 269%, a divida liquida externa do Estado cresceu 122,6%, ou seja, menos de metade (45,6%) do crescimento da divida liquida total do País: No entanto, a da banca e das empresas ao estrangeiro aumentou 629,2%, isto é, cinco vezes (5,13) mais do que o aumento percentual da divida externa do Estado. Portanto, a situação da banca e das empresas é ainda mais grave do que a do Estado. No entanto, os media e os banqueiros nunca falam dela.
Entre 2009 e 2010, a divida líquida do País diminuiu em 642 milhões €, pois passou de 186.193 milhões € para 185.551 milhões. Esta redução foi obtida à custa da diminuição da dívida líquida da banca aos estrangeiros que, entre 2009 e 2010, diminuiu em 20.501 milhões €, pois passou de 76.705 milhões € para 56.204 milhões €. E isto sucedeu não apenas em 2010, mas também em 2008, em que a divida da banca ao estrangeiro diminuiu em -20,8%; 2009, em -2,2%; e em 2010, em -26,7%. A banca “portuguesa”, à medida que os seus empréstimos vencem, os credores obrigam-na a amortizar as dívidas e já não emprestam mais. E isto porque os bancos já não acreditam uns nos outros. A banca em Portugal não consegue fugir a esse labéu apesar das repetidas declarações dos banqueiros e do governo de que a banca está de boa saúde financeira. Continuar a ler →
Se os irlandeses atravessam a pior crise de que há memória, podem com fundamento responsabilizar a banca privada que, só ela, já absorveu o equivalente a 45 por cento do Produto Interno Bruto em ajudas públicas.
Este pantagruélico sorvedouro de dinheiros públicos voltou a reclamar, na semana passada, novas doses maciças de capital, sob pena do descalabro. O mais recente diagnóstico do sistema bancário irlandês, divulgado no dia 31, acusou a necessidade absoluta de uma injecção de 24 mil milhões de euros para lhe manter os sinais de vida.
Somados aos 46 mil milhões já gastos pelo governo, a factura do buraco financeiro da banca privada ascende a 70 mil milhões de euros, ou seja, a 45 por cento do PIB irlandês.
Segundo as conclusões do Banco Central da Irlanda, o Allied Irish Banks, já nacionalizado, é a entidade que necessita de mais fundos (13 300 milhões de euros), seguida pelo Bank of Ireland (5200 milhões), Irish Life & Permanent (IL&P), (quatro mil milhões) e a Educational Building Society (1500 milhões), instituição financeira do sector da construção igualmente já nacionalizada. Continuar a ler →
– A banca em Portugal lucrou 3.828 milhões € em três anos à custa das famílias, das empresas e do Estado – Dilema actual: ou esta situação é alterada rapidamente ou o país tem de sair da zona euro
Tal como aconteceu antes da crise de 2008, em que os bancos financiaram os especuladores, a uma taxa de juro baixa, para que pudessem depois obter elevados lucros, agora também o Banco Central Europeu (BCE) está a financiar a banca a uma taxa de juro também muito baixa (1%), não impondo quaisquer limites na utilização desse dinheiro, para que depois os bancos possam obter lucros extra à custa das taxas de juro elevadas que cobram não só aos Estados, mas também às famílias e às empresas. É um esquema que interessa tornar claro para todos, embora os comentadores oficiais com acesso privilegiado aos media nunca se refiram a ele, procurando assim ocultá-lo. Por isso vamos voltar a ele. E esse esquema “diabólico” é o seguinte.
Antes de ter entrado para a Zona Euro, Portugal possuía um Banco Central (Banco de Portugal) que podia emitir moeda (escudos), e que comprava divida ao Estado a uma taxa reduzida, assegurando assim o seu financiamento e também garantindo que nunca o Estado entrasse em falência porque o Banco de Portugal disponibilizava sempre os meios financeiros para que o Estado pagasse os seus compromissos. As únicas limitações eram em relação à divida externa, que teria ser paga em divisas o que obrigava o Estado a recorrer fundamentalmente ao endividamento interno para se financiar, e a necessidade de evitar que a inflação disparasse. Continuar a ler →
De tão usada nos últimos tempos a expressão «sacrifícios para todos» tornou-se quase um lugar comum. Não é coisa de somenos, isso dos lugares comuns: querendo dizer tudo sem dizer nada acabam sempre, de uma forma ou de outra, por propiciar a interiorização da ideia que transmitem como se de verdade absoluta se tratasse, ainda que conscientemente se saiba que não é assim.
A frase «sacrifícios para todos», ou a sua variante «todos temos de fazer sacrifícios», é repetida de manhã à noite por quantos têm voz nos média dominantes, sobretudo quando se trata de comentar a indignação e justa luta dos trabalhadores contra as políticas anti-sociais do Governo, contra os cortes de salários, contra o brutal ataque em curso aos mais elementares direitos dos trabalhadores que configura um autêntico retrocesso civilizacional. Continuar a ler →
Foi decerto só por mero acaso que as medidas de austeridade que se traduzem em reduções de salários e prestações sociais ou em aumentos de impostos, como também os aumentos dos preços dos bens essenciais, entraram em vigor no exacto momento em que acabou de soar a 12ª badalada da meia-noite de 31/12/10, enquanto a propagandeada contribuição extraordinária sobre a banca, que Sócrates apresentou como forma de também os bancos participarem nos famosos sacrifícios “para todos”, ficou à espera, comodamente sentada, de uma portaria regulamentadora. A notícia foi dada pelo “Público”, que tentou, sem sucesso, obter do Ministério das Finanças explicação para o estranho caso da portaria inexistente (ou da porcaria existente). Continuar a ler →
1. Questão prévia: em 31 de Dezembro de 2008 o défice orçamental do Estado estava em 2,8% e um ano depois disparava para 9,3%. Como foi possível que tivesse aumentado tão rapidamente? Múltiplos factores contribuíram para esta realidade.
Em primeiro lugar, o Estado e a banca pública tiveram de ir em socorro do sistema financeiro, nomeadamente dando garantias superiores a 20 mil milhões de euros (mais de 12,5% do PIB). Na altura os comunistas (e não só) advertiram: não venham depois apresentar a factura do regabofe do BPP, do BPN e do BCP aos mesmos do costume. Recorde-se, por exemplo, que o BPN era um banco que em 2007, reportou resultados positivos de 77 milhões de euros e, em 2006, de 86 milhões de euros. Mas que apresentou a 30 de Outubro de 2008 700 milhões de euros de prejuízos. Hoje o valor injectado ultrapassa os 4 mil milhões de euros (2,4% do PIB!!!).
Consequências? Contraiu-se a economia, caiu o PIB, cortaram-se as receitas, aumentou o desemprego, aumentaram os gastos com a subida do desemprego e com as ajudas aos banqueiros. E, claro, mantiveram-se as célebres derrapagens das contas públicas.