“2. AS MONTANHAS
A serra da Freita domina pela dimensão, pela unidade que constitui e pelos valores que encerra. Mas outras alturas se impõem, desde os contrafortes do Montemuro aos arredondados do Arressaio. E sempre presentes os rios e ribeiros, a floresta e os matorrais, o pastoreio e as aldeias ancestrais. Aqui, os valores naturais são imensos e a sua importância, para o desenvolvimento do concelho, decisiva. É que não está em causa só a economia, mas também e muito uma paisagem extraordinária, uma forma muito própria de estar na vida, a luta contra o despovoamento e o equilíbrio de um território, que só será conseguido se a presença humana aí continuar a ser uma realidade.
A floresta, sobretudo nas encostas, tem uma importância decisiva para a economia rural e tem de ser entendida não só como o mealheiro a que se recorre quando necessário, mas como um recurso que deve ser explorado de forma racional e permanente. Só que enferma de debilidades e problemas que põem em causa esse objectivo e todo o equilíbrio natural.
A monocultura do eucalipto e do pinheiro, em povoamentos contínuos, extremes ou mistos, tornam-na vulnerável aos incêndios, propiciam a degradação dos solos, erradicam espécies tradicionais, põem em causa rios e ribeiros e contribuem decisivamente para a diminuição da diversidade vegetal e animal.
O planalto da Freita é invadido e agredido sem regras nem ordenamento e a sua degradação, em termos paisagísticos e de fauna e flora, é uma realidade que nos confrange.
Em todo este espaço pontuam aldeias onde vivem cada vez menos pessoas (3), importando afirmar e assumir que a paisagem serrana é fruto da natureza, mas também e muito resultado da actividade humana que sempre soube ser agente de um grande equilíbrio, equilíbrio esse que, nas últimas décadas, fruto de políticas erradas, foi criminosamente posto em causa. A sobrevivência das aldeias e o povoamento da serra são imperativos de ordem natural, cultural e económica.
Aqui, nestas montanhas, pastam vacas e cabras que têm de ser vistas como património animal de interesse local e nacional e que podem ser, cada vez mais, condição de sobrevivência do homem da serra, mas também de defesa e manutenção da paisagem como a conhecemos. O planalto da Freita e ouras alturas do concelho não passariam de imensos matagais se o pastoreio desaparecesse.
As riquezas geológicas, minerais, arqueológicas, paleontológicas e arquitectónicas são recursos que importa conhecer melhor, preservar e rentabilizar, devidamente enquadrados numa política em que as visões científicas e preocupadas com a natureza e as pessoas sejam determinantes.
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