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Estocolmo, sentada numa esplanada observo a limpeza e respiro o ar puro característico de uma cidade “civilizada”, onde as pessoas tomam conta das ruas e as bicicletas são em maior número do que os carros. Os condutores, sem pressa, conduzem com cautela parando atempadamente nas passadeiras. O sol nasce cedo e todos chegam antes da hora marcada aos compromissos. A pontualidade é uma das características dos suecos.

Está frio na rua, mas o interior dos edifícios é incrivelmente confortável, com uma temperatura uniforme, mantida através de radiadores.

Viajo de autocarro até uma espécie de museu ao ar livre (Skansen). No exterior de um café observo um estacionamento para carros de bebé e a confiança dos pais em deixar os carros lá estacionados enquanto se sentam a relaxar com os seus filhos. À noite, no mesmo espaço, assisto à celebração da Primavera com o acender de uma grande fogueira e cantares tradicionais.

Mais tarde, já em Gävle, cidade do norte da Suécia, entro na Universidade e deslumbro-me. Tudo é pensado ao pormenor, detalhes simples que fazem toda a diferença. A conjugação de cores, a disposição dos móveis, os espaços, o sorriso afável das pessoas. Os trabalhadores podem desfrutar de café, chá, capuchino e outras bebidas semelhantes a qualquer hora de forma gratuita. O conforto das cadeiras e a ergonomia das secretárias ajudam a realizar as tarefas diárias e a prevenir doenças profissionais. Toda esta harmonia torna o ambiente de trabalho um lugar onde apetece estar, ou não sejam as universidades espaços potenciais de relação e desenvolvimento do pensamento. Utilizado pela primeira vez no ano de 1857, pelo polaco Wojciech Jarstembowsky, a ergonomia surge como “uma ciência do trabalho que requer que entendamos a atividade humana em termos de esforço, pensamento, relacionamento e dedicação”. Desde então muitos investigadores têm debruçado investigação nesta área.

As pessoas fazem os espaços e os espaços fazem as pessoas. Nesta harmonia ergonómica e visual necessária, o foco deverá ser nos relacionamentos, ou seja, na forma como a academia se relaciona e comunica com os jovens adultos, os seus estudantes, e como estes devem/podem viver o espaço universitário. Em Portugal, os mais recentes dados divulgados sobre a saúde mental dos estudantes do ensino superior demostram que um quinto refere sofrer de algum tipo de doença mental, tendo 37,8% apresentado sintomas moderados a graves de ansiedade e 38,5% sintomas depressivos moderados a severos. São dados que devem ser refletidos. As universidades, tal como todos os espaços de aprendizagem ou de trabalho, devem ser pensados de forma a promover o bem-estar e a qualidade de vida das pessoas.

Voltando a Gävle, e para terminar a viagem, nada melhor do que uma ópera ao som de uma orquestra sinfónica com a sala quase lotada. Também a cultura para a aprendizagem e o desenvolvimento da criatividade e do pensamento devem ser uma prioridade!

Tendo em conta o conceito de saúde mental que implica um sentimento de bem-estar connosco e na relação com os outros, urge também refletir sobre a importância do acesso à cultura na fruição de ambientes saudáveis.  

“Roda Viva”, 18 de Maio de 2023