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No dia que chega é de mentiras. Por vezes também o parece a liberdade nestes tempos tumultuosos onde quem tem uma opinião diferente, mas fundamentada sobre as  mais variadas situações é apelidado de negacionista, pró algo ou contra algo. A vida não é só “preto” ou “branco”, mas é isso que nos pretendem impingir, obrigando-nos a optar por uma dessas duas cores. Porque temos nós de escolher o preto ou o branco se existem tantas outras cores na paleta cromática da vida?

No dia que se segue ao 1 de abril, celebra-se o aniversário da Constituição (2 abril). Nela está explanado o direito à liberdade, à saúde, à educação, à habitação. Direitos que em muitos casos são mentira.

Com o aumento desmensurado dos preços e o custo de vida a atingir níveis incomportáveis, são cada vez mais as pessoas onde estes direitos não são verdade.

É mentira o direito à educação quando aumenta o abandono escolar por falta de condições socioeconómicas. Mesmo os trabalhadores-estudantes não conseguem pagar o quarto, alimentação e demais despesas com os magros salários que auferem.

É mentira o direito à saúde quando dados nacionais e internacionais nos indicam que quanto pior o nível socioeconómico, pior a saúde, quer a física, quer a mental, e maior a dependência. Quem tem dinheiro vai ao privado e, além de um diagnóstico precoce, não deixa a sua situação de doença evoluir. Quem não tem aguarda atendimento no SNS que necessita urgentemente de medidas de contratação de profissionais e de recursos próprios que têm vindo, ao longo dos últimos governos, PS e PSD, a ser destruídos. No orçamento de estado de 2022, 40% do orçamento para a saúde drenou para o setor privado. Em vez de se reforçar o SNS com recursos para que não seja necessário recorrer a serviços convencionados no privado estamos cada vez mais a entregar esses serviços ao privado com a desculpa de que assim se poupa mais. Apenas um exemplo, faço regularmente exames oftalmológicos específicos. Quando fiz a primeira vez fui encaminhada para o Hospital dos Covões, setor público, em Coimbra. Dois anos depois encaminharam-me para um Hospital Privado também em Coimbra. Perguntei porque é que não iria fazer os exames no Hospital dos Covões ao que me responderam que a máquina avariou e como era muito cara, os exames passaram a ser feitos no privado.

É mentira o direito à habitação quando assistimos a preços muitíssimo superiores ao ordenado mínimo nacional no que toca ao arredamento e quando vemos uma subida brusca dos juros no crédito habitação e, consequentemente, ao aumento das prestações mensais que se tornarão incomportáveis. Serão muitas as famílias que por incumprimento terão de deixar as suas casas já que os bancos estão-se nas tintas para estas situações. Mas esta crise é apenas para alguns. Os mesmos de sempre. Portugal é dos países da zona euro onde a taxa variável mais pesa. Países como a França ou a Alemanha têm maioritariamente taxa fixa no crédito habitação, o que significa que apenas um número muito reduzido de famílias está a sofrer uma subida na prestação da casa. Já em Portugal a maioria tem taxa variável, tendo a prestação duplicado para mais do dobro, em alguns casos, com a subida dos juros. Significa isto que muitas famílias verão as suas casas hipotecadas pelo banco num futuro próximo.

É urgente o aumento dos ordenados e a mudança de políticas. É urgente o reforço do SNS, a resolução dos problemas da educação e da habitação. É urgente celebrar o verdadeiro 25 de abril com o espírito de há 50 anos! Lutemos todos os dias pelos nossos direitos e pela liberdade e não deixemos que abril se fique pelo dia 1.

Termino com uma frase sábia de Salgueiro Maia dedicando este artigo à sua memória e a todos aqueles que lutaram e que lutam pela liberdade de poder ser livre. “Não se preocupem com o local onde vão sepultar o meu corpo, preocupem-se é com aqueles que querem sepultar o que ajudei a construir”.

“Roda Viva”, 13 de Abril de 2023