Num fragmento do filme “O Quadrado”, de Ruben Östlund, assiste-se a uma conversa entre um adulto e uma criança. A criança queixa-se de uma injustiça da responsabilidade indireta do adulto e trata-o como alguém da sua igualha, com uma boçalidade de taberna. O adulto, incrédulo, muito senhor da sua sueca “identidade social-democrata, formalmente cortês e serena”, não consegue lidar com a grosseria do petiz. O quadro que nos é apresentado é o da incompreensão, idiossincrasias contrastantes, linguagens de universos paralelos.
Estaremos perante um quadro social exclusivamente sueco ou será global? Circunscreve-se ao relacionamento hodierno entre adultos e crianças? Serão assim os adultos de amanhã? Não acontecerá o mesmo entre professores e alunos, servidores públicos e utentes? Entretanto, esbarro noutro fragmento da realidade, este contado e bem mais próximo de nós.
Numa escola da Área Metropolitana do Porto, um professor, cordato e cortês como poucos, numa aula do 9º ano, pediu, repetidas vezes, a um aluno para se sentar, tirar o boné, abrir o caderno e fazer a atividade proposta. Sucederam-se as negas, proferidas com maus modos, contrastando com a abordagem civilizada do docente. A dada altura remata o aluno: – não me chateie, quero é ir lá para fora. Se assim quer, retorquiu educadamente o professor, faz o favor de sair. O aluno levantou-se, gingão, escarrou para o chão e abandonou a sala.
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