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O Dia In­ter­na­ci­onal da Mu­lher tornou-se um sím­bolo de luta das mu­lheres

1. Passam 113 anos da 2.ª Con­fe­rência In­ter­na­ci­onal de Mu­lher, que aprovou a cri­ação de um Dia In­ter­na­ci­onal da Mu­lher e cujas ra­zões e al­cance so­cial e po­lí­tico im­porta co­nhecer para manter na me­mória das mu­lheres do tempo pre­sente o valor da luta tra­vada por su­ces­sivas ge­ra­ções, que fi­zeram dele uma data com pro­fundo sig­ni­fi­cado his­tó­rico. Uma co­me­mo­ração que con­tinua a ter plena ac­tu­a­li­dade para afirmar uma luta de todos os dias pelo muito que ainda falta al­cançar em Por­tugal no cum­pri­mento de di­reitos das mu­lheres, na lei e na vida, no efec­tivo com­bate e pre­venção a todas as formas de de­si­gual­dade, dis­cri­mi­nação e vi­o­lên­cias que per­duram no quo­ti­diano da mai­oria das mu­lheres.

O Dia In­ter­na­ci­onal da Mu­lher emerge do mo­vi­mento ope­rário e re­vo­lu­ci­o­nário, tendo como ob­jec­tivos dar força à luta das tra­ba­lha­doras contra a dupla ex­plo­ração e opressão ca­pi­ta­lista a que es­tavam su­jeitas e face à ne­gação dos di­reitos eco­nó­micos, so­ciais e po­lí­ticos im­postos a todas as mu­lheres.

Clara Zetkin, a des­ta­cada di­ri­gente do mo­vi­mento co­mu­nista e in­ter­na­ci­onal que propôs o Dia In­ter­na­ci­onal da Mu­lher, foi o rosto na di­na­mi­zação de um forte ac­ti­vismo em de­fesa dos di­reitos das mu­lheres, pro­fun­da­mente com­pro­me­tido com a trans­for­mação da sua con­dição so­cial, ras­gando novos ho­ri­zontes na luta eman­ci­pa­dora das mu­lheres ex­plo­radas e opri­midas pelo sis­tema ca­pi­ta­lista.

Com o Dia In­ter­na­ci­onal da Mu­lher foi de­sen­vol­vido um ac­ti­vismo em de­fesa dos di­reitos das mu­lheres que deu cen­tra­li­dade à tra­ba­lha­dora, que emergia como parte sig­ni­fi­ca­tiva dos tra­ba­lha­dores e se des­ta­cava na sua luta comum por me­lhores con­di­ções de vida e de sa­lá­rios.

Um ac­ti­vismo que, afron­tando a in­fe­ri­o­ri­dade mi­lenar im­posta às mu­lheres e va­lo­ri­zando a nova con­dição de tra­ba­lha­doras a que foram cha­madas a de­sem­pe­nhar no quadro do sis­tema ca­pi­ta­lista, afrontou igual­mente a dupla ex­plo­ração e opressão – de classe e em função do sexo – que este lhes impôs.

Um ac­ti­vismo com­pro­me­tido com os di­reitos das tra­ba­lha­doras em que o «seu tra­balho é usado pelo ca­pital como um novo e im­por­tante factor eco­nó­mico ao ser­viço da ma­xi­mi­zação do seu lucro, sendo o sis­tema ca­pi­ta­lista o único res­pon­sável pelo tra­balho das mu­lheres não ser si­nó­nimo de mais ri­queza para a so­ci­e­dade e para o bem-estar de cada um dos seus mem­bros, mas so­mente para o au­mento do lucro de um pu­nhado de ca­pi­ta­listas», como afirmou Clara Zetkin.

Ao longo dos úl­timos 113 anos, o Dia In­ter­na­ci­onal da Mu­lher tornou-se um sím­bolo de luta das mu­lheres na re­sis­tência à ofen­siva contra os seus di­reitos pró­prios, contra a guerra e pela paz, na va­lo­ri­zação dos avanços ob­tidos pela sua luta, con­se­guidos na es­treita li­gação com a luta dos tra­ba­lha­dores e dos povos nos ca­mi­nhos da li­ber­dade, da de­mo­cracia, da con­sa­gração de di­reitos das mu­lheres, na lei e na vida. Em cada ano se afirma nesta co­me­mo­ração o muito que é pre­ciso lutar para que a igual­dade no tra­balho e na vida seja uma re­a­li­dade vi­vida e usu­fruída pelas mu­lheres, e para que a Paz e a jus­tiça sejam um bem vi­vido pela Hu­ma­ni­dade.

2. Em Por­tugal, a co­me­mo­ração desta data está li­gada à luta das mu­lheres na sua opo­sição ao fas­cismo, que se er­gueu na de­fesa da li­ber­dade, de­mo­cracia e paz. As mais an­tigas re­fe­rên­cias en­con­tram-se nas edi­ções do Avante! clan­des­tino, entre os anos de 1953 e 1973. Elas dão eco das ini­ci­a­tivas le­vadas a cabo por mu­lheres re­sis­tentes an­ti­fas­cistas e, a partir de 1970, pelo Mo­vi­mento De­mo­crá­tico de Mu­lheres.

Com Abril, esta co­me­mo­ração tem sido um dia de luta para afirmar uma luta de todos os dias pela con­sa­gração, na lei e na vida, dos seus di­reitos eco­nó­micos, so­ciais, po­lí­ticos e cul­tu­rais e pela sua par­ti­ci­pação em igual­dade em todos os do­mí­nios da so­ci­e­dade.

3. No tempo pre­sente são muitas as ra­zões para afirmar o sig­ni­fi­cado his­tó­rico desta data, num tempo em que as mu­lheres, en­quanto tra­ba­lha­doras, ci­dadãs e mães, estão su­jeitas a pe­sados sa­cri­fí­cios no seu quo­ti­diano e a ver hi­po­te­cados os seus di­reitos. Por isso, o 8 de Março con­tinua a ser um dia de luta em de­fesa dos di­reitos das mu­lheres, num país de jus­tiça e de pro­gresso so­cial.

“Avante!”, 2 de Março de 2023