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Membro do Comité Central do PCP e professor universitário
Subscrevi o manifesto por uma vida justa e participei na manifestação do passado sábado em Lisboa. Lutar por melhores salários, pelo direito à habitação e por mais respeito pelas comunidades imigrantes que trabalham em Portugal é da mais elementar justiça
Se todos reconhecem que os portugueses estão a passar por grandes dificuldades dado que a inflação que se tem vindo a verificar não está a ser acompanhada por aumentos salariais que evitem uma perda significativa dos salários reais, o nível baixíssimo dos salários que são pagos à maioria dos trabalhadores em Portugal faz com que, para estes, o dia a dia seja uma luta pela sobrevivência no limiar da pobreza e da exclusão social.
O manifesto por uma vida justa nasceu nos bairros periféricos da Grande Lisboa habitados por uma população laboriosa, heterogénea, contando com imigrantes de diferentes origens, que se levantam de madrugada para trabalhar em limpezas, na hotelaria, na construção, nos supermercados, nos transportes, nas distribuições, nas mais diversas atividades que têm em comum a precariedade, os baixos salários, as longas jornadas de trabalho, a ausência de direitos. Foram estas populações que nunca pararam durante a pandemia por integrarem setores que garantem serviços essenciais, que enchem os transportes públicos sem ter dinheiro para o transporte individual e que habitam em bairros periféricos em más condições habitacionais por não ter dinheiro para suportar rendas e juros elevados pelo acesso à habitação.
Ter uma vida digna é uma justa aspiração de todos os seres humanos. Garantir condições para que todos tenham uma vida digna é um imperativo de uma sociedade decente. Uma sociedade onde se empobrece a trabalhar e onde se ganham fortunas fabulosas com a especulação e com a exploração do trabalho alheio, não é uma sociedade decente. A injustiça que faz com que se empobreça a trabalhar é o resultado de uma sociedade em que a riqueza de uma minoria assenta na exploração do trabalho da maioria. O capitalismo não é justo.
A manifestação do passado sábado juntou as aspirações de muitos trabalhadores portugueses e muitos trabalhadores imigrantes a uma vida mais justa. Não é suportável que os preços – particularmente dos bens de primeira necessidade – aumentem constantemente, que os lucros das grandes empresas continuem a aumentar de forma obscena, e que quem trabalha tenha de se sujeitar a salários baixos e estagnados que não permitem, a tantos de milhares de trabalhadores e às suas famílias, ter acesso a uma vida com um mínimo de condições de acesso a uma alimentação adequada, a uma habitação condigna, a direitos sociais que a Constituição consagra mas que a vida recusa. E não é aceitável que tantos milhares de imigrantes vivam e trabalhem entre nós numa situação de ilegalidade que os coloca numa situação de fragilidade inaceitável.
O movimento por uma vida justa assume a exigência de políticas que respeitem as pessoas e que lhes garantam uma vida com melhores salários, com acesso à habitação e com respeito pelos direitos de todos. A manifestação do passado sábado foi um grito de alma de populações laboriosas, convergente com as lutas de todos os trabalhadores pelos seus direitos e de todos os que lutam por uma sociedade mais justa. A luta dos trabalhadores contra a sua exploração continua a ser a mais atual de todas as lutas.
“Expresso”, 27 de Fevereiro de 2023