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Debateu-se no passado dia 3, na Escola Secundária de Arouca, a Saúde Mental dos Jovens no âmbito das iniciativas do Parlamento Jovem, onde participei como representante do PCP. Este tipo de iniciativas é extremamente relevante e necessário para fomentar nos jovens o debate e o pensamento crítico sobre diversas temáticas para que possam formar a sua opinião com base em diversas perspetivas. É de enaltecer a participação ativa dos alunos e professores e o interesse na temática.

Se já antes da pandemia os problemas de saúde mental dos jovens eram uma constante, sendo o suicídio uma das principais causas de morte na faixa etária dos 15 aos 19 anos (dados da OMS), esta só veio agravar ainda mais o problema. Uma metanálise que analisou vários estudos internacionais concluiu que a ansiedade nos adolescentes passou de 11.6% para 20.5% e a depressão de 12.9% para 25.2%. Significam estes dados que 1 em cada 5 jovens apresenta ansiedade e 1 em cada 4 depressão. O confinamento e o distanciamento social, o medo de contrair e transmitir o vírus, o agravamento das condições socioeconómicas, e o mediatismo e alarmismo constante e diário através de todos os meios de comunicação, contribuíram para este agravamento.

Perante este problema que está mais do que identificado como devemos atuar?

Em primeiro lugar é importante uma consciencialização dos jovens e dos pais acerca da forma como cada um pode promover a sua saúde mental. É fundamental que cada um trace o seu próprio plano de saúde mental, onde inclua:

  1. Prática regular de exercício físico (no mínimo uma vez por semana)
  2. Alimentação saudável, evitando os processados
  3. Convívio presencial com os amigos e com a família
  4. Participação em atividades recreativas de acordo com as preferências de cada um
  5. Participação ativa na sociedade, seja através das associações locais, de organismos políticos, religiosos, entre outros
  6. Traçar um plano de gestão do tempo, onde se defina os momentos de estudo e os momentos dedicados ao lazer
  7. Gerir o tempo passado no telemóvel e nas redes sociais (estudos indicam que quanto maior o tempo despendido com o telemóvel pior a saúde mental)
  8. Criar rotinas de sono, dormindo as horas suficientes para ser produtivo durante o dia
  9. Ter um confidente para falar sobre os problemas, abordar os problemas já é terapêutico
  10. Ser confidente e compreender o outro, sem julgamentos ou críticas, praticando a empatia. O que para nós não é um problema, pode ser para o outro e é importante compreender isto.

Em segundo lugar, é importante que os pais e a comunidade académica estejam atentos a sinais que podem indicar o início de uma doença mental, como por exemplo, irritabilidade, tristeza, falta de vontade em participar em atividades que antes eram prazerosas para o jovem, desmotivação, stress e preocupação excessivas, agressividade verbal, não dormir ou dormir menos do que o habitual, alterações ao padrão habitual de comportamento e isolamento social. Há uma tendência para ignorarmos estes sintomas não compreendendo o motivo dos mesmos, o que leva muitas vezes à discriminação. No entanto, devemos integrar, em vez de criticar. Às vezes a simples pergunta “Como te sentes?” e ouvir, mais do que falar, mostrando compreensão já é um passo enorme para ajudar quem precisa de ajuda.    

Em terceiro lugar é necessária uma mudança nas políticas de saúde mental, valorizando o investimento em recursos humanos que permitam dar respostas às necessidades da população, quer seja na promoção da saúde mental e prevenção da doença, que passa pelo reforço de profissionais peritos em saúde mental nos cuidados de saúde primários e na comunidade, onde se incluem as escolas; quer seja no tratamento da doença mental já instalada e na reabilitação psicossocial. Neste aspeto as nossas políticas de saúde estão muito aquém do desejável e é por isso que o PCP tem feito propostas ao longo dos anos neste sentido.  

Algumas das propostas que o PCP tem apresentado são: reforço dos profissionais na área da saúde mental nos cuidados de saúde primários para a realização de consultas dedicadas ao diagnóstico precoce; consultas em todos os centros de saúde dedicadas a uma intervenção precoce na saúde mental da primeira infância e adolescência; articulação entre as Equipas de Saúde Mental da Infância e Adolescência e os cuidados de saúde primários, em contexto escolar no âmbito da saúde escolar. Nos últimos Orçamentos de Estado (já antes da pandemia) o PCP propôs um reforço de psicólogos nas escolas, com um rácio de 1 psicólogo por cada 500 alunos, que se dedique não só a questões vocacionais, mas também à promoção da saúde mental e prevenção da doença mental, ajudando os adolescentes a adquirir estratégias de resolução dos problemas. Estas propostas têm sido rejeitadas na Assembleia da República. Foi aliás a falta de investimento na resolução dos problemas de saúde da população e de medidas que reforcem o SNS, que levou o PCP a votar contra o Orçamento do Estado de 2022.

Se todos contribuirmos com os meios que temos ao nosso alcance para promover a saúde mental dos jovens e de todas as faixas etárias teremos, sem dúvida, um mundo melhor e mais saudável.

“Roda Viva”, 11 de Janeiro de 2023