Etiquetas
Uma amiga minha que assistiu à estreia, no Teatro Nacional de São João, da peça de teatro “Ensaio sobre a cegueira”, de José Saramago, na versão cénica de Clàudia Cedó, andou todo o santo fim-de-semana a repetir um trecho do manual de leitura da dita:
“Porque foi que cegamos, Não sei, talvez um dia
se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga
o que penso, Diz, Penso que não cegámos, penso
que estamos cegos, Cegos que veem, Cegos que,
vendo, não veem.
A mulher do médico levantou-se e foi à janela.
Olhou para baixo, para a rua coberta de lixo
Para as pessoas que gritavam e cantavam. Depois
levantou a cabeça para o céu e vi-o todo branco,
Chegou a minha vez, pensou. O medo súbito fê-la
baixar os olhos A cidade ainda lá estava.”
De há uns anos a esta parte, temos assistido – mais ainda agora, com a consolidação das redes sociais como espaço de vida pública -, a uma fragmentação da CIDADE, concomitante com o crescendo da lógica grupal, tribal. Um tribalismo construído em torno de causas políticas, religiosas, culturais, geracionais. Autênticas seitas, tal é o grau de agressividade, de desprezo e de ódio a tudo que está para além da tribo, proporcional ao fervor e ligação à tribo e aos seus membros.
Continuar a ler