Vi­eram do Minho e do Al­garve, dos Açores e das Beiras, das áreas me­tro­po­li­tanas e da Ma­deira, do Alen­tejo e de Trás-os-Montes, do Oeste e até do es­tran­geiro. Eram ho­mens, mu­lheres e jo­vens. Tra­ba­lha­dores, re­for­mados e es­tu­dantes. Ope­rá­rios e pro­fes­sores, pro­fis­si­o­nais de saúde e mú­sicos, es­ta­fetas e in­ves­ti­ga­dores, ad­vo­gados e ac­tores, pes­ca­dores e em­pre­sá­rios. Tra­ba­lham em su­per­mer­cados e hos­pi­tais, em fá­bricas e es­colas, em ar­ma­zéns e te­a­tros, em lojas e ex­plo­ra­ções agrí­colas.

Lá es­ti­veram os paulos e as jo­anas, as ma­rias e os ma­nueis, as ritas e os fran­ciscos, os ar­tures e as so­fias – e tantos, mas tantos ou­tros. Ali, como todos os dias estão no sin­di­cato e na as­so­ci­ação, na co­missão de tra­ba­lha­dores e de mo­ra­dores, na co­lec­ti­vi­dade e na au­tar­quia, na cé­lula de em­presa ou local de tra­balho, na luta e na or­ga­ni­zação po­lí­tica que lhe dá corpo – e sen­tido.

Da tri­buna, como di­a­ri­a­mente em reu­niões e ple­ná­rios, em ca­dernos rei­vin­di­ca­tivos e ac­ções de de­núncia pú­blica, re­fe­riram-se ao sa­lário que é ur­gente au­mentar, à re­forma que não chega para quase nada, ao trans­porte pú­blico que não existe, à água que deve per­ma­necer pú­blica, à ha­bi­tação trans­for­mada em luxo, à saúde cada vez mais ne­gócio de poucos em vez de di­reito de todos. De­fen­deram a es­cola pú­blica e re­jei­taram que a cul­tura seja apenas um lu­cra­tivo e oco en­tre­te­ni­mento. In­sis­tiram que a um posto de tra­balho per­ma­nente deve cor­res­ponder sempre um vín­culo efec­tivo. Re­cor­daram que as cri­anças não terão di­reitos se os seus pais não os ti­verem e que a li­ber­dade, a de­mo­cracia e a paz não são dados ad­qui­ridos.

À se­me­lhança do que fazem no dia-a-dia, junto das pes­soas, ali de­nun­ci­aram in­jus­tiças e dis­cri­mi­na­ções, deram voz a an­gús­tias e pre­o­cu­pa­ções, re­a­fir­maram prin­cí­pios e so­lu­ções.

In­for­maram os seus ca­ma­radas do que correu bem – e menos bem. Deram a co­nhecer di­fi­cul­dades e obs­tá­culos e juntos de­fi­niram ca­mi­nhos para os su­perar. Fa­laram das lutas tra­vadas e dos seus ob­jec­tivos, do que se al­cançou no ime­diato e do que ficou de se­mente para o fu­turo, de avanços mas também de re­cuos, dos novos com­ba­tentes que surgem – e lhes dão mais força e as­se­guram con­ti­nui­dade.

Re­fe­riram-se às quotas e aos avantes!, às cé­lulas e aos novos mi­li­tantes, às or­ga­ni­za­ções lo­cais e à ne­ces­sária li­gação à vida que pulsa à sua volta. E a tantas coisas mais…

De todos estes, que no fim-de-se­mana par­ti­ci­param na Con­fe­rência Na­ci­onal do PCP, dirão al­guns que lhes falta pre­sença me­diá­tica, que são des­co­nhe­cidos do pú­blico, que não têm no­to­ri­e­dade. En­ganam-se: co­nhecem-nos bem onde quer que haja um pro­blema, onde se trava um pro­testo, onde a luta ger­mina.

Pre­ci­sa­mente onde as te­le­vi­sões, as rá­dios e os jor­nais optam por não estar.

“Avante”, 17 de Novembro de 2022