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Vivemos num mundo de modas económicas: foi a troika, foi a pandemia, e agora é a guerra.  Tudo serve para justificar a especulação e, por conseguinte, a diminuição do poder de compra de quem vive do seu trabalho ou da reforma. Ora é a diminuição de salários, de que todos nos lembramos nos vários governos (corte do subsídio de férias e Natal Passos Coelho/ Troika), ora o brutal aumento dos preços  nos tempos mais recentes.

Vejamos dados concretos, apesar da “crise”, os grandes grupos económicos continuam a aumentar brutalmente os lucros. A EDP, por exemplo, entre janeiro de setembro deste ano teve lucros de 518 milhões de euros. No entanto, a fatura de energia em nossas casas continua a aumentar. Se olharmos para sete das multinacionais do petróleo constatamos lucros que ascendem os 117,8 mil milhões de euros, ou seja, um aumento de 153%. Apesar disso, o preço dos combustíveis continua a aumentar.

Numa perspetiva global constatamos lucros de cerca de dois mil milhões de euros no primeiro semestre de 2022, de 12 empresas do PSI, o que corresponde a um aumento superior a 60% quando comparado com o período análogo do ano anterior. Por outro lado, assistimos a um contraste com as dificuldades das micro, pequenas e médias empresas.

Em suma, enquanto os lucros dos grandes grupos económicos continuam a aumentar, os preços para o consumidor continuam a subir. Os salários continuam com aumentos ínfimos que não chegam para fazer face ao aumento do custo de vida, havendo uma clara diminuição do poder de compra num processo continuado de exploração.

Falando agora de habitação, como sabemos, os preços estão incomportáveis para a maioria dos cidadãos, assistindo-se a um aumento do número dos sem-abrigo. Segundo a ministra da segurança social, Ana Mendes Godinho, o número de sem abrigo aumentou de 2020 para 2021 havendo mais 791 a viver na rua. Além disso, a questão da falta de habitação afeta também as oportunidades dos jovens estudantes, visto que muitos desistiram de estudar por não terem possibilidade de pagar um quarto na cidade onde foram colocados.

É urgente outra política, é urgente mudar de rumo. As pessoas devem ser a prioridade no processo de gestão do país, é preciso aumentar salários, acabar com a especulação e regular preços.

Estamos há muito tempo com o mundo virado ao contrário, onde quem trabalha empobrece a trabalhar e uns tantos duplicam a sua riqueza aumentando cada vez mais o fosso entre os pobres e os ricos.

Citando Saramago no Ensaio sobre a Cegueira “Como se a falta de visão lhe tivesse enfraquecido a memória”. Não deixemos que nos tirem a visão e nos enfraqueçam a memória. Façamos uma reflexão profunda sobre as políticas dos últimos anos, e em consciência, tomemos uma decisão acerca do rumo que queremos.

“Roda Viva”, 17 de Novembro de 2022