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Foi eleito no sábado passado, por quem tinha competência estatutária para o fazer (Comité Central), o novo Secretário-Geral do PCP, Paulo Raimundo, decisão que teve forte aclamação na 4ª Conferência Nacional do PCP.
Deste facto, pelo que se viu, leu e ouviu foi muito o brado causado por tal decisão, talvez porque, do extenso leque de comentadores, politólogos, cientistas políticos e demais experts, nenhum, mas mesmo nenhum, conseguiu adivinhar tal possibilidade.
Na era da politica-espetáculo em que tudo é dissecado, toda a intriga é urdida, toda esgaravatação é feita, como foi possível um dos elementos do Comité Central do PCP que acumula simultaneamente funções nos dois órgãos executivos, o Secretariado e a Comissão Política, ter passado despercebido? Como foi possível o camarada que discursou no Centenário não ter sido considerado? Como é que não passou cá para fora a construção de uma decisão, há muito tempo a ser trabalhada no Comité Central?
Talvez sejam duas as razões principais: porque o PCP não é um partido igual aos outros e porque os cientistas políticos não podem olhar para o PCP com os mesmos óculos. Não quer isto dizer que, em absoluto, os comunistas são melhores militantes que os militantes dos restantes partidos. Não, são humanos como os outros. A diferença é que se esforçam por ser melhores militantes e, simultaneamente, o coletivo os “obriga” a serem melhores militantes. A diferença é que o Secretário-Geral não é o melhor quadro do partido, é o quadro que o partido acha que melhor pode desempenhar aquela tarefa. Não há rankings de militantes no PCP.
Os cientistas políticos convenceram-se que, se vivemos na era do espetáculo só os camaradas com mais presença e reconhecimento na comunicação social poderiam desempenhar tal tarefa, ignorando que o que do PCP se vê na comunicação social é muito pouco da vida toda do PCP. No PCP há reuniões onde se discute política, no PCP há iniciativas onde se aprofundam reflexões, os militantes do PCP participam cívica e politicamente nas instituições e nos movimentos de massas, ou seja há muita mais vida do que aquela que é televisionada.
Se se olhar para a sociedade e o tempo que vivemos com alguma atenção talvez se perceba a escolha do PCP. Trata-se de uma casa centenária, com muito análise acumulada, ver um igual a falar dos problemas concretos do dia a dia talvez não seja uma opção tão estranha quanto isso. Mais ainda num partido que se diz dos operários e de todos os trabalhadores. Provavelmente os analistas do show biz político ficaram de vista toldada com as luzes da própria sociedade do espetáculo que alimentam.
“Discurso Directo”, 18 de Novembro de 2022