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Os mer­cados, e com eles o dé­fice e a dí­vida, vol­taram em força à agenda po­lí­tica e me­diá­tica. Pas­sada a pan­demia e com a guerra a deixar de ser no­vi­dade (e a perder fulgor como ar­gu­mento), eis que os mer­cados vol­taram a ficar «ner­vosos», «in­qui­etos» e «pre­o­cu­pados» com even­tuais exa­geros ou der­ra­pa­gens nas contas pú­blicas. No de­bate do Or­ça­mento do Es­tado, que con­cluiu na se­mana pas­sada a sua pri­meira fase, com a mais que es­pe­rada apro­vação na ge­ne­ra­li­dade, lá es­teve uma vez mais a ob­sessão com as «contas certas».

Mas afinal que contas são estas?

O que sa­bemos é que al­gumas estão er­radas. Como as que apontam para in­ve­ro­sí­meis taxas de in­flação de 4 e 2 por cento nos pró­ximos anos, quando a deste an­dará pelos oito e na ver­dade nada faz prever al­te­ra­ções sig­ni­fi­ca­tivas nesta si­tu­ação, pelo menos a curto prazo. Desta pre­visão, im­por­tará que se diga, de­pende o valor de ac­tu­a­li­zação de sa­lá­rios, re­formas, pen­sões e ou­tras pres­ta­ções so­ciais…

In­cluirão estas contas os 9,2 mil mi­lhões de euros que, so­bre­tudo sob a forma de di­vi­dendos e lu­cros, saíram do País para o es­tran­geiro nos pri­meiros sete meses do ano (mais 2,2 mil mi­lhões do que em igual pe­ríodo de 2021)? Mu­dará o re­sul­tado saber-se que isto re­pre­senta bem mais de me­tade do or­ça­mento do Mi­nis­tério da Saúde, pre­ci­sa­mente aquele que pre­tende gastar qual­quer coisa como oito mil mi­lhões em «aqui­sição de ser­viços» aos grupos pri­vados? E que apenas con­cre­tizou, até final de Agosto, 135,5 mi­lhões dos já de si es­cassos 864 mi­lhões pre­vistos em in­ves­ti­mento?

Serão par­celas destas contas certas os três mil mi­lhões anun­ci­ados pelo Go­verno «para a energia» e que aca­barão a fi­nan­ciar di­rec­ta­mente os lu­cros da EDP, da GALP, da En­desa ou da Iber­drola? Ou os 1274 mi­lhões em Par­ce­rias Pú­blico Pri­vadas, que terão igual­mente como des­tino os co­fres destes ou de ou­tros grupos eco­nó­micos? Con­tarão para as somas os be­ne­fí­cios fis­cais e a nova re­dução de IRC que o Go­verno se pre­para para ofe­recer às grandes em­presas?

Umas há, entre elas, que são de mul­ti­plicar, desde logo que se fazem nos con­se­lhos de ad­mi­nis­tração dos prin­ci­pais grupos eco­nó­micos: no pri­meiro se­mestre do ano, as em­presas do PSI-20 viram os lu­cros crescer 73% re­la­ti­va­mente a igual pe­ríodo do ano pas­sado, para 2300 mi­lhões de euros, e em des­taque está a GALP.

Mas há ainda as ou­tras contas, as que a mai­oria tem de fazer para de­cidir se abas­tece o carro ou se aquece a casa, para es­co­lher o que põe no cesto ou deixa na pra­te­leira do su­per­mer­cado. E já que fa­lamos de contas, houve quem as tenha feito e con­cluído que nos úl­timos oito meses a pes­cada au­mentou quase 80%, os bró­colos perto de 50%, o leite meio-gordo 34% e o frango 31%.

Estas são contas de sub­trair. Com resto zero. Ou até menos.

“Avante!”, 3 de Novembro de 2022