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Po­breza ener­gé­tica, assim se chama «à in­ca­pa­ci­dade de mi­lhares de fa­mí­lias cus­te­arem as suas ne­ces­si­dades de con­forto tér­mico, para aquecer ou ar­re­fecer as suas casas de forma ade­quada», é um fla­gelo que afecta entre 1,9 a três mi­lhões de pes­soas em Por­tugal. Se­gundo os dados ofi­ciais, cerca de 660 a 740 mil pes­soas vivem em si­tu­ação de po­breza ener­gé­tica se­vera e entre 1,2 a 2,3 mi­lhões pes­soas em si­tu­ação de po­breza ener­gé­tica mo­de­rada.

Quer isto dizer, sem eu­fe­mismos, que em Por­tugal ainda se morre de frio e de calor, so­bre­tudo nas zonas ru­rais e entre a po­pu­lação idosa, sendo que a po­breza ener­gé­tica po­tencia ainda o agra­va­mento de do­enças cró­nicas e com­pli­ca­ções res­pi­ra­tó­rias ou car­di­o­vas­cu­lares, au­men­tando a mor­ta­li­dade.

Diz o o Índice de Po­breza Ener­gé­tica Do­més­tica Eu­ro­peia (2019) que Por­tugal é o 4.º país eu­ropeu mais pobre ener­ge­ti­ca­mente, só atrás da Es­lo­vá­quia, Hun­gria e Bul­gária, com cerca de 75% das ha­bi­ta­ções sem con­di­ções de iso­la­mento tér­mico.

De re­ferir que mais de 50 mi­lhões de fa­mí­lias na UE se en­con­tram em idên­tica si­tu­ação, o que é re­ve­lador, pelo menos, das de­si­gual­dades vi­gentes na pre­tensa «casa comum».

Sendo Por­tugal um dos países com tem­pe­ra­turas mais amenas da Eu­ropa, o facto de cerca de 22,5% da sua po­pu­lação, quase um quarto, viver em si­tu­ação de po­breza ener­gé­tica – cerca de três vezes a média eu­ro­peia – atesta o nível de po­breza do País e o fosso que nos se­para da ficção pro­pa­lada por Bru­xelas, onde dia 9 tem lugar uma ci­meira ex­tra­or­di­nária do Con­selho Eu­ropeu da Energia para «aprovar uma so­lução eu­ro­peia que pro­teja em­presas e fa­mí­lias dos au­mentos».

«A pri­o­ri­dade é acabar com a nossa de­pen­dência dos com­bus­tí­veis fós­seis sujos da Rússia», diz a pre­si­dente da Co­missão Eu­ro­peia, Ur­sula von der Leyen, sem re­ferir qual será a nova de­pen­dência, mas dei­xando im­plí­cito que será lim­pinho qual­quer com­bus­tível fóssil que não venha da Rússia. Cer­ta­mente por es­que­ci­mento, omitiu que a re­forma do mer­cado da elec­tri­ci­dade está em cima da mesa há um ano, mas que então al­guns países eram «muito cép­ticos em re­lação à mu­dança de ar­qui­tec­tura do mer­cado de elec­tri­ci­dade».

A pri­o­ri­dade não é, nem nunca foi, acabar com a po­breza ener­gé­tica na UE, onde com guerra ou sem ela os po­bres estão ao sabor dos ele­mentos.

A pri­o­ri­dade não é, nem nunca foi, con­trolar preços, evitar a es­pe­cu­lação, de­sen­volver po­lí­ticas que te­nham em conta os in­te­resses das po­pu­la­ções.

A pri­o­ri­dade é «es­magar a Rússia», nem que para isso seja ne­ces­sário per­sistir em me­didas sui­cidas que fazem dis­parar a in­flação, em­purram as eco­no­mias para a re­cessão, tornam a UE ainda mais refém da NATO e dos EUA, e fazem a se­men­teira da po­breza e da mi­séria.

No In­verno que se avi­zinha, para aquecer te­remos de atear o des­con­ten­ta­mento.

“Avante!”, 1 de Setembro de 2022