Etiquetas

A Festa do Avante decorre este ano nos dias 2, 3 e 4 de setembro e a sua divulgação já começou pelos mais diversos meios. Ao longo dos anos foram já várias as tentativas de destruição deste grandioso evento construído através da solidariedade, da luta, do trabalho voluntário, da força de vontade, da motivação, da resistência e da resiliência. Quem lá vai, seja de esquerda ou mais à direita não sai de lá indiferente. Miguel Esteves Cardoso, em 2011, publicou um artigo de opinião onde disse: “As festas do Avante, por muito que custe aos anticomunistas reconhecê-lo, são magníficas”.

O PCP foi a única organização que conseguiu realizar uma festa no meio de uma pandemia, cumprindo com todas as condições de segurança sanitária e sem um único surto. A única organização que não deixou os artistas para trás quando eles mais precisavam, porque não é o lucro que faz a festa, ao contrário da maioria dos grandes festivais. Quem lá esteve sabe o quão importante foi este evento para os artistas, sentia-se a alegria no olhar e na voz.

A Festa do Avante é arte, é cultura, é teatro, é cinema, é ciência, é gastronomia, é música, é desporto, é literatura, é debate, é saúde, é educação, é internacionalização, é tudo isto e muito mais num espaço ao ar livre que é único. Mas mais importante do que todo o cartaz cultural e político, é a forma como nos sentimos a partir do momento em que transpomos as portas de entrada. É mágico, é um sentimento de solidariedade e de bem-estar único, que não se consegue ter em nenhum outro local. Naquele espaço não são precisos espelhos, nem preparação prévia, não é preciso maquiagem ou roupa de festa. Ali, somos verdadeiramente livres e somos nós despidos de preconceitos, somos felizes. Às vezes olhamos para o programa e programamos ir ver isto ou aquilo, e outras vezes não vamos a lado nenhum. Ficamos simplesmente deitados na relva à sombra a sentir o som, a brisa e a magia do espaço, só porque sim, porque nos apetece.    

É assim a Festa, um espaço de bem-estar onde naturalmente cedemos a cadeira ao outro ou o lugar na fila, sem termos de pensar “vou fazer esta ação”. É um gesto automático.

Um espaço onde conhecemos outras culturas, onde falamos uns com os outros, sem nos conhecermos, mas como se já nos conhecêssemos há muito tempo, onde não são precisos telemóveis, nem redes sociais.

Termino com uma frase de Miguel Esteves Cardoso no artigo citado: “Todos os portugueses haviam de ir de cinco em cinco anos a uma Festa do Avante, só para enxotar estereótipos e baralhar ideias”.

“Roda Viva”, 11 de Agosto de 2022