É pos­sível fazer re­cuar os fau­tores da guerra.

De­pois de nascer em 1975 como G7 (EUA, Reino Unido, Ale­manha, França, Itália, Japão e Ca­nadá), passou em 1997 a G7+1 ou G8, com a as­so­ci­ação da Fe­de­ração Russa, vol­tando em 2014 a G7. A ex­pli­cação para tal evo­lução é sim­ples. Com a dis­so­lução da URSS e o de­sen­vol­vi­mento da contra-re­vo­lução sob a ba­tuta de Ieltsin, a cú­pula do im­pe­ri­a­lismo cal­culou que as­so­ci­ando a Rússia em po­sição su­bal­terna fa­ci­li­taria a ir­re­ver­si­bi­li­dade da res­tau­ração ca­pi­ta­lista, as­se­gu­raria a ra­pina desse imenso e rico país, for­ta­le­ceria a sua he­ge­monia mun­dial.

Não foi porém essa a evo­lução. Como não o foi a evo­lução de­se­jada em re­lação à Re­pú­blica Po­pular da China quando, na sequência da po­lí­tica de «re­forma e aber­tura», pro­mo­vida a partir de 1978 com Deng Xiao Ping, o im­pe­ri­a­lismo pensou que a China iria re­negar os ideais da sua re­vo­lução e evo­luir (a te­oria da «evo­lução pa­cí­fica») para o ca­pi­ta­lismo.

Acon­teceu que a as­so­ci­ação da Rússia ao G7, com todos os sa­la­ma­le­ques e elo­gios então pro­di­ga­li­zados a Vla­dimir Putin, eleito pre­si­dente em 2000, se re­velou in­com­pa­tível com a ca­val­gada da NATO e da UE até às fron­teiras de uma Rússia que en­tre­tanto passou a de­fender a sua so­be­rania, pro­cesso que está na gé­nese da guerra ini­ciada em 2014 na Ucrânia. Uma guerra que podia e devia ter sido evi­tada e a que é ur­gente pôr termo, como no pas­sado dia 25 se re­clamou em Lisboa com a grande marcha «Paz sim, guerra e cor­rida aos ar­ma­mentos» não voltou a re­clamar no dia 29 no Porto.

Quando es­cre­vemos esta cró­nica, a Ci­meira do G7 na Ba­viera ainda não ter­minou, mas nada de bom será de es­perar para os tra­ba­lha­dores que estão a ver a sua vida in­fer­ni­zada pelo brutal au­mento do custo de vida e pelos custos de uma guerra e san­ções que, como sempre, são pagos pelos que menos podem e menos têm.

Re­a­li­zada entre o Con­selho Eu­ropeu de 23/​24 de Junho (que atri­buiu o es­ta­tuto de can­di­dato da Ucrânia e su­bli­nhou a ver­tente mi­litar da UE) e a Ci­meira da NATO de 29/​30 de Junho em Ma­drid, que se propõe dar um gi­gan­tesco salto na cor­rida aos ar­ma­mentos e es­tender os seus ten­tá­culos à re­gião Ásia-Pa­cí­fico (note-se a par­ti­ci­pação do Japão, Aus­trália, Co­reia do Sul e Nova Ze­lândia), as pri­meiras no­tí­cias desta Ci­meira do G7 já in­dicam cla­ra­mente o que move os seus par­ti­ci­pantes. Sé­rias pre­o­cu­pa­ções com a in­flação, a pers­pec­tiva de re­cessão e o cres­ci­mento do des­con­ten­ta­mento po­pular que já se ma­ni­festa em im­por­tantes lutas em vá­rios países; mais achas para a fo­gueira da guerra e mais san­ções à Rússia; novas me­didas para «conter» e afrontar a China em que, uma vez mais se anun­ciam rios de di­nheiro (Biden anun­ciou 600 mil mi­lhões de dó­lares até 2027) com o ob­jec­tivo afir­mado (!) de con­tra­riar o cres­ci­mento do papel po­si­tivo da China nas re­la­ções eco­nó­micas in­ter­na­ci­o­nais.

Ve­remos as con­clu­sões fi­nais. Uma coisa é certa. Esta Ci­meira do G7 como a Ci­meira da NATO con­firmam a ne­ces­si­dade de in­ten­si­ficar a luta pela paz e a so­li­da­ri­e­dade in­ter­na­ci­o­na­lista para com os povos ví­timas da agressão im­pe­ri­a­lista. As ma­ni­fes­ta­ções que nestes dias ti­veram lugar em Lisboa, Ma­drid, Mu­nique e nou­tras ci­dades mos­tram que, com per­sis­tência, fir­meza de prin­cí­pios e es­pí­rito uni­tário anti-im­pe­ri­a­lista, será pos­sível fazer re­cuar os fau­tores da guerra.

“Avante!”, 30 de Junho de 2022