É uma longa his­tória, a do an­ti­co­mu­nismo. Tanto quanto a do pró­prio pro­jecto po­lí­tico que pre­tende com­bater, sis­te­ma­ti­zado em 1848 no Ma­ni­festo do Par­tido Co­mu­nista. Nele, Karl Marx e Fri­e­drich En­gels ve­ri­fi­cavam já que «todos os po­deres da velha Eu­ropa» se ali­avam para uma santa ca­çada ao es­pectro do co­mu­nismo.

Desde então que a pers­pec­tiva da so­ci­e­dade sem classes e a acção dos que a ela se en­tregam fazem tremer as classes do­mi­nantes: travar os co­mu­nistas, isolá-los, acabar com eles, se pos­sível, tornam-se ob­jec­tivos cen­trais do grande ca­pital e ga­ran­tias da so­bre­vi­vência do sis­tema ca­pi­ta­lista. Ou não fossem eles a pri­meira e fun­da­mental bar­reira à ex­plo­ração e à opressão: a luta contra o co­mu­nismo, que sempre foi pro­pó­sito, é também pre­texto.

Esta his­tória, que não mais deixou de ser es­crita, fez-se e faz-se de ca­lú­nias e de ma­ni­pu­la­ções, diá­rias e per­ma­nentes. Mas também de cons­pi­ra­ções e de crimes – inú­meros e par­ti­cu­lar­mente vi­o­lentos.

Um dos mais cé­le­bres ocorreu em Fe­ve­reiro de 1933, quando os nazis atri­buíram aos co­mu­nistas o in­cêndio do Par­la­mento alemão, crime que eles pró­prios co­me­teram. A pre­texto de uma ine­xis­tente su­ble­vação co­mu­nista, foram su­pri­midas as ga­ran­tias cons­ti­tu­ci­o­nais que res­tavam e con­ce­didos po­deres ex­tra­or­di­ná­rios ao go­verno, che­fiado por Hi­tler: mi­lhares foram presos e as­sas­si­nados, vá­rios nos campos de con­cen­tração e ex­ter­mínio en­tre­tanto cri­ados. O Par­tido Co­mu­nista foi o pri­meiro – e prin­cipal – alvo da re­pressão, mas es­teve longe de ser o único: se­guiram-se os so­cial-de­mo­cratas, de­pois os cen­tristas e por fim os na­ci­o­nais-ale­mães, que até então par­ti­ci­pavam na co­li­gação de go­verno. O des­fecho da tra­gédia é por de­mais co­nhe­cido.

Nos pós-Se­gunda Guerra Mun­dial, foi o im­pe­ri­a­lismo norte-ame­ri­cano a as­sumir a li­de­rança da cru­zada an­ti­co­mu­nista. Em seu nome, ali­mentou o mi­li­ta­rismo e a guerra, es­magou re­vo­lu­ções li­ber­ta­doras, pro­moveu golpes de Es­tado, fa­vo­receu e sus­tentou re­gimes fas­cistas, ins­tigou o ter­ro­rismo. Da In­do­nésia ao Chile, do Congo ao Vi­et­name, de Cuba a todo o Médio Ori­ente, do Brasil à África do Sul.

Em Por­tugal, a di­ta­dura fas­cista fez do an­ti­co­mu­nismo ban­deira. A al­guns sec­tores opo­si­ci­o­nistas, em troca do iso­la­mento do PCP, foi pro­me­tida uma le­ga­li­dade pri­vi­le­giada, nunca con­ce­dida. Com Abril, o pre­con­ceito, a cons­pi­ração e o ter­ro­rismo di­ri­gidos contra o PCP foram fun­da­men­tais para que aquela fosse uma re­vo­lução ina­ca­bada.

Hoje, é uma vez mais o PCP o prin­cipal obs­tá­culo ao festim dos grupos eco­nó­micos, que amassam for­tunas com a crise que ator­menta a mai­oria. O que ex­plica o de­sen­vol­vi­mento de uma «ofen­siva de pendor an­ti­co­mu­nista, com ob­jec­tivos e pro­jectos an­ti­de­mo­crá­ticos mais am­plos», de­nun­ciada há dias pelo Co­mité Cen­tral.

Não pas­sarão

“Avante!”, 15 de Junho de 2022