Em Portugal a esperança média de vida tem vindo a aumentar nos últimos anos, sendo superior à média Europeia. No entanto, estes anos vividos a mais não estão a ser vividos com saúde, sendo a esperança média de vida com saúde em Portugal muito inferior à média Europeia. Ora, isto significa que não estamos a cuidar da nossa saúde ao longo do percurso de vida. Por um lado, existem estratégias que podemos adotar para prevenir a doença, por outro lado, tendo diagnosticada uma doença crónica, existem estratégias para lidar com ela, de forma a manter a qualidade de vida e um percurso de envelhecimento saudável, mantendo a independência.

São vários os fatores que influenciam a forma como lidamos com os processos de doença e, consequentemente, a probabilidade de termos incapacidades devido a essa mesma doença. Os fatores socioeconómicos e, por sua vez, a acessibilidade aos serviços de saúde são determinantes na gestão do processo saúde doença e irão influenciar a forma mais ou menos saudável como viveremos a velhice.

Como podemos promover um envelhecimento ativo e saudável de forma a vivermos a velhice como se fossemos ainda jovens? Envelhecimento não é sinónimo de velhice. É quando nascemos que começamos a envelhecer. E é desde o nascimento que devemos iniciar as ações promotoras de um envelhecimento ativo e saudável. Significa isto que os nossos estilos de vida ao longo de todo o ciclo vital vão influenciar a forma como envelhecemos, mais ou menos saudável, e, consequentemente a probabilidade de sermos autónomos e independentes após os 65 anos.

Tenho vindo a abordar as estratégias para o reforço da imunidade, entre outras questões relacionadas com a saúde nos artigos de opinião aqui publicados. São essas mesmas estratégias que devemos adotar para que tenhamos estilos de vida saudáveis. De uma forma muito resumida para promovermos um envelhecimento ativo e saudável devemos:

1) ter uma alimentação saudável (evitar processados é fundamental);

2) ter boas noites de sono;

3) praticar exercício físico no mínimo duas vezes por semana;

4) conviver com a família e os amigos;

5) participar em atividades culturais e recreativas (fotografia, pintura, teatro, entre outras);

6) ter uma ocupação satisfatória (académica, laboral, voluntariado…);

7) exercitar o cérebro (ler, escrever, jogos de tabuleiro…). Estes são pontos-chave que dependem de cada um de forma individual e coletiva para promover a saúde mental e física e ao mesmo tempo o envelhecimento ativo e saudável. Mas há mais, as opções políticas de cada país também influenciam a forma como vivemos o nosso processo de envelhecimento. Por exemplo, se tivermos uma comunidade com baixos recursos económicos, vamos ter dificuldade em promover estilos de vida saudáveis, seja pelo acesso à alimentação saudável, por exemplo, seja pelo acesso às atividades acima referidas. Além disso, ao surgir uma situação que provoque uma incapacidade, mas com potencial de reabilitação, quanto menor o poder económico da pessoa, menor a probabilidade de ter os cuidados necessários para um retorno à independência. Ora isto leva a que tenhamos hoje em Portugal elevadas taxas de dependência e com isto mais gastos em saúde. É uma bola de neve. Vivemos cada vez mais, mas não necessariamente com qualidade de vida. Além do prejuízo para a pessoa e para as famílias, temos também um elevado prejuízo para a economia que podia ser evitado se tivéssemos os recursos adequados às necessidades das pessoas. Voltaremos a abordar este assunto em mais pormenor numa próxima edição. Por agora, foquemo-nos nas questões que dependem de cada um de nós para que possamos rejuvenescer ao envelhecer

“Roda Viva”, 16 de Junho de 2022