Adoptar um con­ceito comum de se­gu­rança; res­peitar a so­be­rania e in­te­gri­dade ter­ri­to­rial e a não in­ge­rência nos as­suntos in­ternos de ou­tros países; acatar os ob­jec­tivos e prin­cí­pios da Carta das Na­ções Unidas; re­co­nhecer a im­por­tância das le­gí­timas pre­o­cu­pa­ções de se­gu­rança de todos os países; aceitar a re­so­lução de di­fe­rendos e dis­putas por meios pa­cí­ficos através do diá­logo e con­sulta; manter a se­gu­rança em áreas tra­di­ci­o­nais e não tra­di­ci­o­nais, de forma in­te­grada – eis, em sín­tese, a Ini­ci­a­tiva de Se­gu­rança Global pro­posta pela China na aber­tura Anual de 2022 do Fórum do Boao para a Ásia, há uma se­mana.

Apre­sen­tada pelo pre­si­dente Xi Jin­ping, a Ini­ci­a­tiva as­senta na con­vicção de que a «se­gu­rança é um pré-re­qui­sito para o de­sen­vol­vi­mento» e de que a «Hu­ma­ni­dade é uma co­mu­ni­dade de se­gu­rança in­di­vi­sível».

Uns dias de­pois, o Con­gresso dos EUA res­sus­ci­tava uma lei da Se­gunda Guerra Mun­dial para per­mitir à Casa Branca uma forma ex­pe­dita de en­viar armas para a Ucrânia, e Biden pedia (mais) 33 000 mi­lhões de dó­lares para a guerra por pro­cu­ração que se trava na Eu­ropa. Fontes bem in­for­madas dizem que a fatia de leão se des­tina a ar­ma­mento, mais de 20 000 mi­lhões de dó­lares, um re­forço sig­ni­fi­ca­tivo do pa­cote de 3400 mi­lhões que, se­gundo a CNN, foi for­ne­cido em as­sis­tência ini­cial e que já irá no dobro.

Em­bora não se possa dizer que es­tamos a falar de pe­a­nuts, dado que as verbas do pa­cote mi­li­o­nário serão tudo menos uma mi­xaria, o que im­porta ter em conta é a abissal di­fe­rença de po­si­ci­o­na­mento das duas super po­tên­cias.

De um lado, a ini­ci­a­tiva de Se­gu­rança Global propõe-se con­tri­buir, «com a sa­be­doria e a ex­pe­ri­ência chi­nesa», para ga­rantir uma «se­gu­rança mun­dial par­ti­lhada», numa al­tura em que a paz está pe­ri­go­sa­mente fra­gi­li­zada em con­sequência da «eclosão da crise na Ucrânia, de­vido à con­tínua ex­pansão da NATO».

De outro lado, já nin­guém tenta es­conder que a pseudo neu­tra­li­dade mi­litar dos EUA e da NATO no con­flito é pura ficção e que não há qual­quer in­te­resse em in­vestir numa so­lução ne­go­ciada. Biden gaba-se dos «mi­lhares de mís­seis, he­li­cóp­teros, ra­dares e mais de 50 mi­lhões de mu­ni­ções» en­vi­ados para Kiev desde o início da guerra, que se jun­taram às 130 to­ne­ladas de ar­ma­mento en­vi­adas antes, e não pára de lançar achas para a fo­gueira. O mesmo su­cede com o cor­ropio de altos dig­ni­tá­rios norte-ame­ri­canos pela Eu­ropa a ga­rantir que é pre­ciso des­truir a Rússia, à custa dos ucra­ni­anos, meros peões num jogo de in­te­resses que ameaça acabar mal.

A re­cente reu­nião de che­fias mi­li­tares de 40 países em Rams­tein, na Ale­manha, país onde forças norte-ame­ri­canas treinam ucra­ni­anos, re­mete para um con­selho de guerra que nin­guém diz querer mas onde todos querem ser he­róis. A China que se cuide: a paz não está na agenda. Por cá, a guerra já co­meçou.

“Avante!”, 5 de Maio de 2022

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