Vasco Gonçalves foi primeiro-ministro entre Junho de 1974 e Setembro de 1975: um período curto, mas intenso, em que emergiu como um revolucionário íntegro e corajoso, profundamente ligado às mais profundas aspirações do povo, para quem será sempre o Companheiro Vasco. Nascido a 3 de Maio de 1921, em Lisboa, Vasco Gonçalves desenvolveu ainda jovem sólidos sentimentos antifascistas, apesar das convicções conservadoras do pai. Na Universidade, toma contacto com o marxismo, que o marcaria profundamente para toda a vida. Na Escola do Exército, entra para a Arma de Engenharia, formando-se como engenheiro. A guerra colonial acentua-lhe as convicções anticoloniais e, em 1973, participa no Movimento das Forças Armadas, sendo então um dos seus militares mais graduados, com o posto de coronel. Quando a Revolução irrompe, tinha 52 anos e era, entre os militares revolucionários, aquele que demonstrava uma mais sólida formação política, o que não terá sido alheio à sua designação como primeiro-ministro em Junho de 1974, apesar das reservas manifestadas por Spínola. Nos 14 meses em que esteve à frente de quatro governos provisórios (II, III, IV e V), deu um contributo determinante para a transformação profunda da realidade política, económica e social do País. É a sua assinatura que se encontra nos decretos governamentais que consagram as mais avançadas conquistas revolucionárias: a nacionalização da banca, dos seguros e de outros sectores estratégicos da economia; a instituição da Reforma Agrária; a criação dos subsídios de desemprego e de Natal para reformados e pensionistas, e da licença de parto; a suspensão dos despedimentos sem justa causa e a garantia dos direitos à greve e à negociação colectiva; o estabelecimento legal da liberdade de associação e de actividade dos partidos políticos. Foi também nos governos de Vasco Gonçalves que o salário mínimo nacional (criado logo em Maio de 1974) subiu consideravelmente, que se melhorou o regime de protecção social dos trabalhadores agrícolas, que foram tomadas importantes medidas de carácter social, nas áreas do ensino – com as campanhas de alfabetização; da saúde – caso do envio de médicos para a periferia; e da habitação – com o início da erradicação das barracas, onde à data da Revolução vivia mais de um milhão de portugueses. Estas conquistas não foram obra de um homem só. Foi a luta das massas populares o factor determinante das transformações democráticas e revolucionárias levadas a cabo e das decisões progressistas do poder político. Contudo, e como o processo revolucionário bem demonstrou, não foi de modo algum indiferente estar à frente do governo alguém, como o General Vasco Gonçalves, tão profundamente identificado com essa mesma luta. Na Revolução de Abril travou-se uma intensa luta – de classes – entre os que construíam um País verdadeiramente democrático e os que, de modo mais ou menos assumido, queriam manter intactas as estruturas económicas do fascismo: o poder dos monopólios e dos latifundiários. Neste confronto, Vasco Gonçalves surgia como baluarte dos sectores progressistas do Movimento das Forças Armadas, e da sua estreita ligação com o movimento popular, e do avanço da revolução rumo ao socialismo. O seu afastamento do governo e do MFA passou a ser, em dado momento, um dos objectivos principais das forças contra-revolucionárias, mesmo das que ostentavam cravos na lapela. Sobre nenhum outro governante foram lançadas tantas calúnias, tantas ofensas, tantas injúrias.
