Per­doará o leitor se estas li­nhas não trou­xerem nada de novo nem forem par­ti­cu­lar­mente ori­gi­nais. Su­cede que em al­guns mo­mentos, por dever de sis­te­ma­ti­zação ou im­pe­ra­tivo de me­mória, se impõe re­gistar o que por aí se diz e es­creve, so­bre­tudo quando estão em causa ques­tões tão im­por­tantes como as elei­ções de 30 de Ja­neiro e a mai­oria ab­so­luta al­can­çada pelo PS.

Desde cedo que o PCP viu na dra­ma­ti­zação em torno do Or­ça­mento do Es­tado, na con­vo­cação de elei­ções an­te­ci­padas e nas son­da­gens diá­rias e res­tante má­quina me­diá­tica à me­dida do voto útil peças de uma ope­ração vi­sando o re­torno pleno da po­lí­tica de di­reita, sem quais­quer cons­tran­gi­mentos. Con­tados os votos e con­fir­mado o re­sul­tado, é hoje claro que tinha razão, e são in­sus­peitas as fontes que o con­firmam.

Logo no dia 31, o pre­si­dente da CIP con­fes­sava que An­tónio Costa lhe foi di­zendo ao longo dos anos que «es­tava refém dos par­tidos da es­querda par­la­mentar». Face à nova si­tu­ação, o pa­trão dos pa­trões é da opi­nião que «temos de apro­veitar essa mai­oria ab­so­luta para um novo ciclo». De que consta esse novo ciclo? An­tónio Sa­raiva ex­plica: «pre­vi­si­bi­li­dade fiscal amiga do in­ves­ti­mento» e «maior efi­ci­ência da ad­mi­nis­tração pú­blica, com re­dução da des­pesa». É pre­ciso tra­duzir?

Já os pre­si­dentes das con­fe­de­ra­ções pa­tro­nais do Tu­rismo, da Agri­cul­tura e do Co­mércio es­peram alí­vios fis­cais e fu­turas de­ci­sões sobre au­mentos do sa­lário mí­nimo su­bor­di­nadas à cha­mada con­cer­tação so­cial, ou seja, ao seu acordo e au­to­ri­zação.

Quem também gostou dos re­sul­tados elei­to­rais foi a banca pri­vada. No dia em que anun­ciava que os lu­cros do BPI tri­pli­caram num só ano, o CEO re­go­zi­java-se pela «van­tagem e opor­tu­ni­dade enorme» que a mai­oria ab­so­luta do PS cons­ti­tuía no mo­mento his­tó­rico que o País atra­vessa – leia-se, em vés­peras de co­me­çarem a chegar os mi­lhões da cha­mada ba­zuca. João Pedro Oli­veira e Costa acre­dita ainda que será desta que aca­bará a con­tri­buição ex­tra­or­di­nária sobre a banca.

Sa­tis­feitas estão, também, as agên­cias de no­tação fi­nan­ceira (ou de ra­ting, que em es­tran­geiro tudo pa­rece mais sério e re­co­men­dável), as mesmas que em 2011 deram co­ber­tura ao maior as­salto de sempre à eco­nomia na­ci­onal e aos di­reitos da mai­oria dos por­tu­gueses: a Fitch, a Mo­ody’s e a Stan­dard & Po­or’s vêem com bons olhos a mai­oria ab­so­luta por tornar «al­ta­mente im­pro­vá­veis» al­te­ra­ções (para me­lhor, di­zemos nós) à le­gis­lação la­boral.

O re­sul­tado das elei­ções torna ainda «pro­vável», ga­rante a Fitch, a apro­vação do Or­ça­mento do Es­tado (o tal que era o mais à es­querda de sempre) sem «mu­danças sig­ni­fi­ca­tivas». Ou, quanto muito, apenas com os «re­to­ques» de que fa­lava o Ex­presso no dia 4: para já, de­verá cair o en­glo­ba­mento em sede de IRS das mais-va­lias mo­bi­liá­rias.

É pre­ciso dizer mais?

“Avante!”, 10 de Fevereiro de 2022