Numa en­tre­vista ao Ex­presso, na sua edição de 4 de Fe­ve­reiro, An­tónio Bar­reto (AB), a pro­pó­sito das elei­ções le­gis­la­tivas, dis­corre sobre o PCP. Com grande «ori­gi­na­li­dade», su­blinhe-se.

Re­vi­si­tando o ba­fi­ento dis­curso da «morte do co­mu­nismo», pro­clama AB que «a partir de agora o PCP vai-se li­gei­ra­mente es­fiar, dis­solver-se no tempo e na his­tória. (…) Nor­mal­mente o di­nos­sauro está morto, e o Par­tido Co­mu­nista Por­tu­guês é um fe­nó­meno que po­derá ser es­tu­dado no fu­turo. Mas é uma morte adiada. Sem a In­ter­na­ci­onal Co­mu­nista, sem a União So­vié­tica, sem o ca­pital pro­gra­má­tico do co­mu­nismo eu­ropeu, está con­de­nado.» E, à per­gunta do jor­na­lista «Sem razão para existir?», res­ponde, ca­te­gó­rico, as­su­mindo a pele de can­ga­lheiro: «Teria, se se ti­vesse re­no­vado muito pro­fun­da­mente, na sua ma­neira de ser, nas suas pro­postas. Agora, este mote con­tínuo, esta len­ga­lenga dou­tri­nária e ide­o­ló­gica chegou ao fim. Na Eu­ropa vi­vemos tempos di­fe­rentes, e o PCP não se soube adaptar. Quantos votos terão nas pró­ximas elei­ções? Ne­nhuns, pró­ximos do zero ou ne­nhum de­pu­tado.»

Pois bem, AB sa­berá que o va­ti­cínio da morte do PCP é tão an­tiga como a pró­pria cri­ação do PCP. Sa­berá ainda AB que sendo o PCP o Par­tido da classe ope­rária e de todos os tra­ba­lha­dores sempre teve contra si o ódio das classes do­mi­nantes e dos la­caios, a quem paga para, sob a velha car­tilha an­ti­co­mu­nista, de­cla­rarem a morte do co­mu­nismo.

Por isso, vezes sem conta foi de­cre­tada a morte do Par­tido Co­mu­nista Por­tu­guês e da luta de classes. Mas também, vezes sem conta, o fluir da his­tória de­mons­trou o con­trário.

O PCP que re­cen­te­mente fez cem anos, so­bre­viveu, de facto, à queda da União So­vié­tica e à «queda do muro de Berlim», como re­fere AB. Mas, já tinha so­bre­vi­vido – facto que cu­ri­o­sa­mente AB omite – à di­ta­dura fas­cista que mais tempo durou na Eu­ropa. Teve, aliás, um papel de­ci­sivo no seu der­rube, como também teve nos avanços da Re­vo­lução de Abril, na re­sis­tência à contra-re­vo­lução e à po­lí­tica de di­reita (de que AB es­tará bem lem­brado), foi de­ter­mi­nante para a re­po­sição, de­fesa e con­quista de di­reitos. E con­tinua a ter um papel in­subs­ti­tuível na luta pela rup­tura com a po­lí­tica de di­reita, pela al­ter­na­tiva, pela de­mo­cracia avan­çada ins­pi­rada nos va­lores de Abril, pelo so­ci­a­lismo.

Para sua frus­tração, não verá cer­ta­mente AB o seu va­ti­cínio con­fir­mado pela his­tória: Nem o PCP se des­ca­rac­te­ri­zará, nem os tra­ba­lha­dores e o povo por­tu­guês pres­cin­dirão do seu Par­tido de classe. Tudo o mais não passa das ha­bi­tuais can­ga­lhadas an­ti­co­mu­nistas que a his­tória se en­car­re­gará de se­pultar.

“Avante!”, 10 de Fevereiro de 2022