Primeiro foi o “vivíamos no paraíso e veio o PCP e chumbou o orçamento”. Depois o “Ómicron de manhã, ao meio-dia e à noite”. A seguir “o Natal, a passagem do ano e a semana de contenção de contactos”. Por último, teremos a campanha eleitoral e o terrível drama, o horror, “o perigo da ingovernabilidade do país” após 30 de janeiro. Pelo meio Cabritas, Rendeiros e quejandos.
Permitam-me outro guião, até porque a Bélgica e a Itália várias vezes estiveram sem governo e não se deram mal e mesmo Portugal a funcionar em duodécimos estaria bem melhor do que com um orçamento de algumas das soluções que estão em cima da mesa.
Para falar dessas soluções vou recorrer a uma ideia do Saramago, aquela do Partido da Esquerda, do Partido da Direita e do Partido do Meio. No caso presente, sabendo que, tanto à esquerda como à direita do meio, estamos a falar de partidos e não de partido. Em 2015, o Partido do Meio precisou dos que estavam à sua esquerda para ser Poder. Em 2019, o Partido do Meio cresceu e os outros, à sua esquerda e à sua direita, decresceram. No final de 2021 o Partido do Meio mostrou ao que anda, quer ser maioria, o Partido da Direita também ou então, ser apoiado ou apoiar o Partido do Meio consoante fique em primeiro ou em segundo. O Partido do Meio, mestre no pisca-pisca, diz: “os portugueses que decidam e depois veremos”.
A última década e meia dá-nos vários exemplos de soluções:
I – Com a maioria entregue ao Partido da Direita (2011/2015) temos aquela coisa das Reformas Estruturais – privatizações, congelamentos, cortes salariais e destruição de carreiras -, cuja consequência foi sintetizada brilhantemente por um senhor que dizem ser dos aventais: “os portugueses estão pior mas o país está melhor”;
II – Com a maioria entregue ao Partido do Meio (2005/2009) temos Reformas Estruturais com incremento tecnológico e formativo – a solução I mais moderada, aditivada com computadores Magalhães e Novas Oportunidades;
III – Com umas coisas modernas chamadas PEC – Programa de Estabilidade e Crescimento – (2009/2011), uma aliança do Partido do Meio com o Partido da Direita, temos a solução I justificada por razões de força maior, a salvação nacional;
IV – Com o Partido do Meio sem maioria e a ter de negociar com o Partido da Esquerda (2015/2019), na linha do dizer do tal senhor dos aventais “o país terá ficado pior mas os portugueses melhor”, o que, como se percebe, é mau. Os portugueses tiveram algum alívio, um sentimento muito funesto.
Num país em que o Estado injetou 20.000.0000 € na banca, paga anualmente 5.000.000€ em serviços de saúde a privados e subsidia o Patronato para aumentar o Salário Mínimo Nacional, há uns senhores liberais que clamam por mais liberalismo. Para tal, propõem liberdade de escolha na Saúde e na Educação. As pessoas escolhem, o Estado paga e os privados recebem. Mais reformas estruturais para o país ficar melhor. Apre!
Aos portugueses caberá a opção de reforçar à esquerda, ao meio ou à direita.
Para um melhor 2022 opte bem a 30 de janeiro.
“Discurso Directo”, 21 de Janeiro de 2022