An­tónio Sa­raiva, pre­si­dente da CIP, deu uma en­tre­vista (i, 10.12.2012). O pa­trão dos pa­trões (assim lhe chama o jornal) desfia com cau­tela muita coisa, in­cluindo um rol de hi­po­cri­sias. Enuncia também vá­rias enor­mi­dades três das quais são, sem dú­vida, de emol­durar: que o que faz os sa­lá­rios mé­dios serem tão baixos são os au­mentos do sa­lário mí­nimo; que os pa­trões «é que são os de­fen­sores dos tra­ba­lha­dores porque lhes pagam os or­de­nados», entre ou­tras obras de mi­se­ri­córdia; que, em de­mo­cracia, «as mi­no­rias têm que se ajeitar (sic) às mai­o­rias». Um tra­tado.

Mas a cau­tela es­capou-lhe na «po­lí­tica». Agora que vem sendo en­ce­nada uma dis­puta elei­toral cen­trada na «al­ter­na­tiva» entre PS e PSD, o que o pa­trão dos pa­trões vem dizer é que para o grande pa­tro­nato PS e PSD são a mesma coisa. Qual­quer deles serve, e o ideal é que andem juntos.

A lista de ra­zões é clara: são eles que farão «as re­formas ne­ces­sá­rias» (para a CIP); são «eu­ro­peístas, de­fen­sores da nossa po­sição na NATO, etc.» (sic). Mantêm-se fiéis ao me­mo­rando da troika, ne­ces­sário ao «res­gate fi­nan­ceiro», «con­junto de re­gras para de­mons­trar aos cre­dores» que Por­tugal «ge­rava con­di­ções, quer so­ciais quer po­lí­ticas, para ser credor dos apoios» dos que «nos con­ti­nuam a ajudar – seja a União Eu­ro­peia, seja o FMI». São assim de­fen­sores da eter­ni­zação da «aus­te­ri­dade», do «acordo so­cial de Ja­neiro de 2012» ou seja da ex­plo­ração acres­cida, da pre­ca­ri­e­dade, da fa­ci­li­tação dos des­pe­di­mentos e da re­dução drás­tica das in­dem­ni­za­ções, do tra­balho sem di­reitos. Do mo­delo que eli­mina os con­tratos e a con­tra­tação co­lec­tiva, as­sente numa «con­cer­tação so­cial» em que a cor­re­lação de forças é in­tei­ra­mente des­fa­vo­rável aos tra­ba­lha­dores (não é, Fran­cisco Assis?).

A CIP sabe o que quer. Trata as di­ver­gên­cias entre PS e PSD de «tac­ti­cismos po­lí­tico-par­ti­dá­rios» e sa­berá do que fala. É por isso que os tra­ba­lha­dores de­ve­riam dar toda a atenção a esta en­tre­vista na hora de de­cidir o voto, de modo a não o jun­tarem ao da CIP.

“Avante!”, 16 de Dezembro de 2021