O artista expressa as suas emoções através da arte, dando às suas obras um significado único e diferente.
Tal como as obras de arte, também cada pessoa é única e tem necessidades individuais específicas. Cada um de nós tem os seus gostos e preferências, os seus hábitos, os seus sentimentos. Cada um de nós valoriza as coisas de uma maneira única, para uma pessoa pode ser importante viver no campo e valorizar isso de uma forma intensa, para outra pode ser indiferente o lugar onde vive. Este princípio aplica-se a todas as vertentes da nossa vida. Talvez por darmos importância diferente às coisas, seja tão difícil, às vezes, compreender o outro. Quando se fala, por exemplo, de alguém que tem depressão ouvem-se, por vezes, comentários: “mas ele/ela tem tudo, não sei porque está assim”. Na maioria das vezes, nem a própria pessoa sabe.
Esta breve introdução serve apenas para que o leitor compreenda melhor o que vem a seguir.
Não é novo que o envelhecimento demográfico tem vindo a aumentar, por um lado devido ao aumento da esperança média de vida, por outro devido à redução da natalidade. Estes anos vividos a mais não têm sido acompanhados, em proporção, por anos vividos com saúde. Significa isto, que temos tido cada vez mais pessoas idosas com multimorbilidade (duas ou mais doenças crónicas) e dependência, a necessitar de cuidados. Devido a uma série de fatores, muitas destas pessoas são institucionalizadas. É importante não esquecermos que o facto da pessoa ficar com algum grau de dependência não perde, por si só, a autonomia, ou seja, não perde a capacidade de decisão. Se assim é, deve ser permitido à pessoa optar, por exemplo, de quanto em quanto tempo quer tomar banho, com quem se quer relacionar, com quem quer dividir o lugar à refeição ou nas salas de convívio, que atividades quer fazer. Claro que tudo isto desde que não ponha em causa os outros, dado que vivemos em comunidade. É por isso que para cuidar é preciso ter arte. É preciso olhar o outro como um ser único e autónomo, com as suas preferências e valores e respeitá-lo. Sejamos para o outro o artista que gostávamos de ver a cuidar de nós.
“Roda Viva”, 16 de Dezembro de 2021