O chumbo do Or­ça­mento do Es­tado e a de­cisão do Pre­si­dente da Re­pú­blica de con­vocar elei­ções le­gis­la­tivas an­te­ci­padas con­fe­riram à po­lí­tica uma re­no­vada atenção me­diá­tica. Nas te­le­vi­sões, rá­dios e jor­nais, em ar­tigos, co­men­tá­rios e de­bates, dis­cute-se de tudo: de son­da­gens a arit­mé­ticas pós-elei­to­rais, da per­for­mance dos ac­tuais lí­deres ao fu­turo das li­de­ranças par­ti­dá­rias.

Na mai­oria dos casos, o bom po­lí­tico é o que na­vega na am­bi­gui­dade ou o que dis­para so­noros soundbytes ca­pazes de atrair mi­cro­fones e câ­maras e mul­ti­plicar ré­plicas nas redes so­ciais. Já o acerto das op­ções de cada força é me­dido por pre­vi­sí­veis (ou in­ven­tados) efeitos em fu­turas elei­ções e não pelos in­te­resses que re­pre­sentam ou pelo im­pacto que cada uma delas possa ter na vida de mi­lhões de pes­soas.

Re­su­mindo, do muito que se tem dis­cu­tido, algo tem fi­cado à margem: a pró­pria po­lí­tica.

O que se disse e es­creveu sobre o voto contra do PCP ao Or­ça­mento do Es­tado é re­ve­lador desta abor­dagem apo­lí­tica à po­lí­tica: muito cál­culo elei­to­ra­lista, es­pe­cu­lação de sobra e ne­nhum in­te­resse real em ex­pli­citar fun­da­mentos, por mais que te­nham sido mil e uma vezes re­pe­tidos.

Veja-se o caso da con­tra­tação co­lec­tiva, uma das muitas ques­tões le­van­tadas pelo PCP a que o PS não deu res­posta, apesar do seu im­pacto or­ça­mental nulo. Se é ver­dade que os termos con­tra­tação co­lec­tiva ca­du­ci­dade en­traram no lé­xico me­diá­tico – ainda que por breves ins­tantes, para logo se es­fu­marem –, também o é que pouco ou nada se fez para tornar claro o que sig­ni­ficam.

Ao per­mitir aos sin­di­catos ne­go­ciar re­mu­ne­ra­ções e di­reitos (fé­rias, pausas, sub­sí­dios) em con­di­ções mais fa­vo­rá­veis aos tra­ba­lha­dores, a con­tra­tação co­lec­tiva sig­ni­fica mais sa­lário ao final do mês para fazer face às cres­centes des­pesas com a energia, a ha­bi­tação, as co­mu­ni­ca­ções, a edu­cação e o des­porto dos fi­lhos, e mais tempo para a fa­mília, para a cul­tura, para a par­ti­ci­pação po­lí­tica e as­so­ci­a­tiva.

Com a ca­du­ci­dade, ins­crita na lei desde 2003 e nunca re­ver­tida, bastou ao pa­tro­nato re­cusar-se a ne­go­ciar para que muitos con­tratos dei­xassem de ser vá­lidos. Desse modo, fi­caram nos seus bolsos – e acu­mu­laram-se nos seus lu­cros – as de­zenas ou até cen­tenas de euros men­sais per­didos por cada um dos mi­lhares de tra­ba­lha­dores que dei­xaram de estar abran­gidos por esses con­tratos.

Sim, a po­lí­tica é feita de op­ções. E as do PS são estas.

“Avante!”, 25 de Novembro de 2021