No dia 18, um grupo de ma­ni­fes­tantes di­rigiu-se a Sines para exigir que em Por­tugal fosse en­cer­rada a úl­tima re­fi­naria na­ci­onal. Des­lo­caram-se em au­to­carros «carbon free», o que de ime­diato le­vanta a questão: será que eram au­to­carros eléc­tricos? Mo­vidos a hi­dro­génio? Não! Eram au­to­carros a ga­sóleo mas a mul­ti­na­ci­onal que os ex­plora «com­pensa» as emis­sões de car­bono: diz que planta ár­vores no Gabão, ou que apoia a compra de fo­gões ter­mo­e­léc­tricos no Bur­kina Fasso, ou qual­quer coisa do gé­nero. Tudo muito mo­derno e ainda mais «free».

Não pre­ci­samos de re­fi­naria, rei­vin­dica esta malta, porque po­demos im­portar os pro­dutos re­fi­nados de ou­tras re­fi­na­rias es­tran­geiras, e po­demos con­ti­nuar a andar de au­to­carros a ga­sóleo, basta com­prar o di­reito a po­luir no mer­cado res­pec­tivo. A mesma malta que saúda o en­cer­ra­mento da Re­fi­naria de Ma­to­si­nhos, da Cen­tral Eléc­trica de Sines e da Cen­tral Eléc­trica do Pego. Que im­porta que quando a ca­pa­ci­dade de pro­dução na­ci­onal de elec­tri­ci­dade não é su­fi­ci­ente te­nhamos de a im­portar das Cen­trais a Carvão, a Gás ou nu­cle­ares de ou­tros países? Es­tamos no pe­lotão da frente da des­car­bo­ni­zação, diz o Mi­nistro do Am­bi­ente, e há quem acre­dite, claro, e quem aplauda até.

Mas se es­ti­ves­semos de facto no pe­lotão da frente da des­car­bo­ni­zação os ma­ni­fes­tantes te­riam ido até à Re­fi­naria em com­boios eléc­tricos. E em vez de es­tarmos a de­sin­dus­tri­a­lizar – po­lí­tica desde sempre apoiada pelo ne­o­co­lo­ni­a­lismo eu­ropeu – e de andar a re­boque dos di­fe­rentes mer­cados e seus ins­tru­mentos es­pe­cu­la­tivos des­ti­nados à con­cen­tração da ri­queza, te­ríamos uma po­lí­tica na­ci­onal am­bi­en­tal­mente sus­ten­tável na de­fesa da flo­resta, nos trans­portes co­lec­tivos, na pro­dução de energia, no ur­ba­nismo, e em tantos ou­tros do­mí­nios. Uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda, di­riam os ca­retas dos co­mu­nistas.

“Avante!”, 25 de Novembro de 2021