Uma das razões que cavou o fim da União Soviética foi a de não ter colocado os avanços tecnológicos ao serviço das populações. Apontando como erro o consumismo capitalista e a sua incessante criação de necessidades artificiais de consumo, o mastiga-e-deita-fora, as economias planificadas de outrora não disponibilizaram aos seus povos os bens de consumo doméstico vulgarizados no espaço capitalista.
A China e o Vietname, na análise que fizeram sobre a ascensão e queda do mundo soviético, consideraram esta opção um erro e, vai daí, esforçaram-se, esforçam-se, em disponibilizar aos seus a mesma gama de produtos tecnológicos dos países capitalistas avançados. A grande questão, porém, é tão só, nomeadamente na China: será o “socialismo com características chinesas”, no dizer de Xi Jinping, capaz de encontrar a fronteira entre a satisfação das necessidades de consumo das massas e o consumismo?
Vem isto a propósito da questão ecológica, porque, no fundo, a questão é a mesma. Decompondo-a:
– Será possível caminhar no sentido da sustentabilidade, da ecologia, assente no modo de vida da sociedade de consumo, no tal mastiga-e-deita-fora?
– Se substituirmos todos os automóveis a gasolina e a gasóleo por automóveis elétricos em vez de apostar no transporte coletivo, o que ganhamos?
– De que serve substituir as concentrações agrícolas de produção animal intensiva por concentrações agrícolas de produção vegetal intensiva, em vez de aproximar os locais de produção dos locais de consumo?
– Qual é a sustentabilidade da substituição de toda a energia carbónica por energia renovável sem baixar os consumos?
– Que ganho ecológico fica da substituição do livro e do caderno em papel por equipamentos digitais em barda acoplados a um big data cada vez mais gigantesco, que consome quantidades de equipamento e energia colossais, ou não fosse o negócio de dados o novo ouro (já ultrapassou o negócio do petróleo)?
O busílis da questão é mesmo a racionalização do consumo. E para isso ocorrer são necessárias políticas públicas, em que a política (interesse público) predomine sobre o negócio (interesses particulares) e não o contrário. No país do Xi Jinping talvez possa ser possível. Por cá, a continuar como está, não me parece. Não é com um Chá de Tias, em Glasgow, que vamos lá. De lá da Escócia, como alguém há dias referiu, veio a certeza de que depois da COP26 haverá uma COP27.
“Discurso Directo”, 12 de Novembro de 2021