“- Pai?
– Sim, filha!
– Estamos em Emergência Climática.
– Ahh!
– Não há Planeta B.
– Mhh.
– Pai!
– Sim.
– Não estamos a fazer nada!
– Filha, começa por arrumar o quarto.”
“Piadas à Pai, Uma Antologia”, autor anónimo
O Capitalismo vive um momento verde. Cinco casos:
I – A jovem Greta cruza os oceanos num catamaran ecológico e chora pelo planeta na ONU;
II – Jovens ativistas climáticos clamam pelo encerramento da refinaria de Sines;
III – Um helvécio, transbordando ecologia, rola, em Zermatt, num Ferrari elétrico, tal o afã em não poluir aqueles ares;
IV – A GALP, por fundas motivações ecológicas, encerra a refinaria de Matosinhos;
V – A EDP, também em modo climático, desconta de 5% no gás e eletricidade verdes, instando os consumidores a reduzir a pegada ecológica.
Emocionante! Cinco perguntinhas:
I – A menina Greta, nos seus périplos, vai sempre de catamaran verde, de bicicleta ou a pé?
II – Fechando a refinaria de Sines deixamos de consumir refinados?
III – Qual é a pegada ecológica que deixa o processo de construção dos carros elétricos?
IV – Qual é o custo ambiental do transporte dos refinados importados?
V – Que impactos tem no ambiente a extração de metais raros, o transporte e a construção de painéis solares (e já agora de telemóveis, tablets e demais equipamentos tecnológicos)?
Nunca me convenceu a natureza democrática do capitalismo. Vem-me à memória o Pinochet e as monarquias do golfo pérsico. Menos ainda as preocupações ecológicas do capitalismo. Neste caso, a frase do Chico Mendes é cristalina: ecologia sem luta de classes é jardinagem. A natureza do capitalismo é a acumulação de capital através do lucro. Se esse lucro vier por “via verde”, assim será. O capitalismo não se orienta por ideais, tão só por interesses.
“Discurso Directo”, 15 de outubro de 2021