1973, golpe fas­cista no Chile da Uni­dade Po­pular. Um acon­te­ci­mento his­tó­rico mar­cante que ne­nhum re­vo­lu­ci­o­nário deve es­quecer. Não pode per­mitir-se que em tempos de gra­vís­simas ame­aças à li­ber­dade, à paz, à so­be­rania dos povos, quando os sec­tores mais re­ac­ci­o­ná­rios e agres­sivos do grande ca­pital jogam cada vez mais no fas­cismo e na guerra como «saída» para o apro­fun­da­mento da crise do ca­pi­ta­lismo, os crimes co­me­tidos pelo golpe or­ga­ni­zado e di­ri­gido pela CIA pela mão de Pi­no­chet seja es­que­cido, so­ter­rado pela ava­lanche me­diá­tica sobre o cri­mi­noso aten­tado de 2001.

Não pode es­quecer-se que no Chile se tratou, não só de des­truir o curso pro­gres­sista pro­ta­go­ni­zado pelo go­verno de Sal­vador Al­lende, mas de pôr em prá­tica as po­lí­ticas ne­o­li­be­rais gi­zadas pelos Chi­cago boys, de brutal ex­plo­ração e con­cen­tração de ca­pital, po­lí­ticas que se es­ten­deram a todo o mundo na sequência das der­rotas do so­ci­a­lismo com a mul­ti­pli­cação de ope­ra­ções de in­ge­rência e agressão do im­pe­ri­a­lismo. Nem es­quecer-se que a luta do povo chi­leno para en­terrar de­fi­ni­ti­va­mente a Cons­ti­tuição pi­no­che­tista con­tinua a exigir a nossa so­li­da­ri­e­dade.

Quanto ao 11 de Se­tembro de 2001, muita coisa con­tinua en­volta numa densa cor­tina de fumo. Mas o que é co­nhe­cido sobre a cri­ação dos mud­jahi­dine, dos ta­libã e do pró­prio Osama bin Laden, e a ser ver­dade a tese ofi­cial sobre os acon­te­ci­mentos, é lí­cito ad­mitir que o fei­tiço se voltou contra o fei­ti­ceiro. Não vamos porém por aí, per­dendo de vista o es­sen­cial.

E o es­sen­cial re­side no apro­vei­ta­mento que os EUA fi­zeram da co­moção criada pela tra­gédia para jus­ti­ficar um novo salto na es­ca­lada agres­siva para impor ao mundo a sua he­ge­monia e, apoiado por ali­ados como os si­o­nistas de Is­rael e a di­ta­dura te­o­crá­tica sau­dita (que aliás foi quem for­neceu a ide­o­logia e os qua­dros im­pli­cados no 11 de Se­tembro), re­de­se­nhar o mapa po­lí­tico de uma vasta re­gião que vai do Ma­grebe à Ásia Cen­tral que de­signou de Grande Médio Ori­ente. De­pois da in­vasão do Afe­ga­nistão, a in­vasão do Iraque e as guerras de agressão à Síria, à Líbia, ao Ié­mene. A então pro­cla­mada guerra ao ter­ro­rismo torna-se numa com­po­nente fun­da­mental da es­tra­tégia do im­pe­ri­a­lismo norte-ame­ri­cano, ser­vindo de co­ber­tura ao sis­te­má­tico afron­ta­mento da Carta da ONU.

Os EUA e os seus ali­ados da NATO acabam de so­frer mais uma hu­mi­lhante der­rota no Afe­ga­nistão, mas o modo como estão a as­si­nalar a pas­sagem dos vinte anos do 11 de Se­tembro não au­gura nada de bom. Há per­tur­bação e in­qui­e­tação no campo im­pe­ri­a­lista, mas a lin­guagem que pre­va­lece nos cír­culos di­ri­gentes não está ori­en­tada para a paz, para a so­lução pa­cí­fica de con­flitos, para o res­peito pelo di­reito in­ter­na­ci­onal.

O que se pro­mete com o pre­texto da «guerra ao ter­ro­rismo» é con­ti­nuar a atacar di­reitos e li­ber­dades fun­da­men­tais, a atentar contra a so­be­rania dos povos, a le­vantar novos muros, a pros­se­guir a cor­rida aos ar­ma­mentos como no caso da UE que, a pre­texto de «au­to­nomia es­tra­té­gica» em re­lação aos EUA, se propõe au­mentar ainda mais as des­pesas mi­li­tares e re­lançar o pro­jecto de um «exér­cito eu­ropeu».

Esta é uma re­a­li­dade que aponta para ne­ces­si­dade de in­ten­si­ficar a luta pela paz e a so­li­da­ri­e­dade in­ter­na­ci­o­na­lista.

“Avante!”, 16 de Setembro de 2021


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