António Costa, chanceler da lusa pátria, na pele de secretário-geral do PS em modo campanha eleitoral, criticou há dias, em Setúbal, uma força política concorrente pelo facto de, dizia, em vez de “trabalharem” (isto é, circunscreverem o exercício das suas funções ao estrito cumprimento da lei) “passam o tempo a reivindicar”.

Não importa aqui a apreciação da justiça ou injustiça da consideração política do governante, mas sim a do papel do autarca. À luz do conceito de António Costa, temos o autarca que trabalha e não reivindica e o autarca que não trabalha e reivindica. O primeiro, por certo, será do PS e o segundo da CDU. Provavelmente, existirá, ainda, o autarca que não trabalha e não reivindica, talvez do PSD ou do CDS, e o autarca que trabalha e reivindica, este mais raro, uma vez que será, eventualmente, do PS e apenas existente em ciclos governativos do PSD.  

Regressemos ao papel do eleito local – deve um autarca reclamar, reivindicar melhores serviços públicos, melhores condições de vida, para os seus fregueses, para os seus munícipes ou não? Ou, por sua vez, deverá vestir o fato de “pau mandado” do poder central?

Terá António Costa caído na velha máxima de um seu homónimo de má memória – se vós soubesses o que custa mandar querias todos obedecer?

É em momentos destes que sobe em mim uma forte simpatia pela ovelha negra, aquela que ao manso balido, “Mê”, do branco rebanho, acrescenta, com aspereza, três letrinhas, a décima sétima, a quarta e a primeira do alfabeto português.  

Ao contrário do que diz o primeiro-ministro, o autarca deve reclamar, deve protestar, deve reivindicar, e muito, sempre que aqueles que representa são ou estão mal tratados pelo poder central. Mais ainda aqueles que pertencem a pequenos concelhos, a pequenas freguesias, sem grande tempo de antena no palco mediático e com massas eleitorais com pouco expressão no todo nacional.

A representação dos munícipes e dos fregueses, dos seus anseios e interesses, é o alfa e ómega da obrigação do autarca. E a reivindicação junto do poder central é uma componente. De genuflexão bastaram os 48 anos da velha senhora.

No dia 26 de Setembro exerça o seu direito de voto, faça a sua escolha.

“Discurso Directo”, 17 de Setembro de 2021