O INE di­vulgou no pas­sado dia 28 de Julho os re­sul­tados pre­li­mi­nares do XVI Re­cen­se­a­mento Geral da Po­pu­lação – Censos 2021.

Os re­sul­tados tor­nados pú­blicos pre­ci­sarão de uma lei­tura muito mais apro­fun­dada, com dados que ainda não estão dis­po­ní­veis e cru­zando di­versos ele­mentos. Mas há um dado que po­demos desde já iden­ti­ficar: Por­tugal con­tinua a perder po­pu­lação (-2,0%) e acentua-se o pa­drão de «li­to­ra­li­zação» e con­cen­tração da po­pu­lação junto da ca­pital do País.

Não há en­ge­nharia ma­te­má­tica que con­siga con­tra­riar a re­a­li­dade que estes nú­meros, mesmo pre­li­mi­nares, ex­põem e que há muito o PCP tem vindo não só a de­nun­ciar, como a apre­sentar pro­postas para uma po­lí­tica al­ter­na­tiva pa­trió­tica e de es­querda que in­verta este rumo de de­clínio.

O que estes dados re­velam é um pro­blema de­mo­grá­fico e a au­sência de po­lí­ticas que travem o êxodo das po­pu­la­ções do In­te­rior e criem as con­di­ções de ocu­pação dos ter­ri­tó­rios. Se­gundo os re­sul­tados, apenas a Área Me­tro­po­li­tana de Lisboa e o Al­garve re­gistam um cres­ci­mento da po­pu­lação e são as re­giões do In­te­rior que têm as perdas mais sig­ni­fi­ca­tivas, si­tu­ando-se o de­crés­cimo mais ex­pres­sivo na Re­gião Alen­tejo.

Por sua vez, a aná­lise por con­ce­lhos per­mite cons­tatar que os cinco con­ce­lhos com perdas mais sig­ni­fi­ca­tivas são do In­te­rior (*), sendo Por­ta­legre a ca­pital de Dis­trito com maior quebra (-10,3%), se­guida de Beja e Cas­telo Branco ambos com perdas de 6,8%. Acen­tuam-se as di­fi­cul­dades nas zonas mais de­pri­midas, vol­tando a re­velar-se as pro­fundas con­tra­di­ções que só po­lí­ticas es­tru­tu­rantes e uma visão global podem con­tra­riar. Bar­rancos no Dis­trito de Beja, com a quebra mais acen­tuada (21,8%) – apenas 1435 ha­bi­tantes em 168 Km2 – é disso um exemplo elu­ci­da­tivo.

Como o PCP tem re­a­fir­mado, o pro­blema de­mo­grá­fico e de ocu­pação do Ter­ri­tório, não se re­solve nem por de­creto, nem por me­didas avulsas mais ou menos bem ar­ru­madas no dis­curso dos su­ces­sivos planos e pro­gramas. Não basta ter um mi­nis­tério se as me­didas por ele adop­tadas con­ti­nuam a as­sentar no mo­delo er­rado, sem ar­ti­cu­lação ine­vi­tável com ou­tras áreas.

In­fe­liz­mente, estes dados eram es­pe­rados. Entre 2011 e 2015, saíram do País mais de 586 mil por­tu­gueses por mo­tivo de emi­gração, na sua mai­oria ac­tivos e em idade fértil.

A na­ta­li­dade di­mi­nuiu, só vol­tando a au­mentar quando a si­tu­ação eco­nó­mica me­lhorou, al­tura em que o nú­mero de saídas do País também di­mi­nuiu.

Como os es­tudos têm re­ve­lado, na mai­oria dos casos os pais gos­tavam de ter mais fi­lhos mas o que tem de­ter­mi­nado a baixa na­ta­li­dade são as con­di­ções de vida e de tra­balho e não a sua von­tade.

De facto, não re­sol­ve­remos o pro­blema da na­ta­li­dade se não dermos con­di­ções às jo­vens fa­mí­lias para po­derem ter fi­lhos. Os vín­culos pre­cá­rios e os ho­rá­rios de tra­ba­lham são fortes con­di­ci­o­nantes. A mai­oria tra­balha ha­bi­tu­al­mente 40 horas se­ma­nais, sendo que em sec­tores como o da agri­cul­tura, pro­dução animal, flo­resta e pesca os ho­rá­rios chegam às 43 horas. É pos­sível e é pre­ciso va­lo­rizar os sa­lá­rios, cri­ando-se assim me­lhores con­di­ções para poder ter mais fi­lhos.

O PCP tem apre­sen­tando me­didas que con­tri­buem em muito para al­terar esta re­a­li­dade, sendo par­ti­cu­lar­mente sig­ni­fi­ca­tivas as pro­postas de au­mento dos sa­lá­rios e do sa­lário mí­nimo na­ci­onal, o com­bate à pre­ca­ri­e­dade e à des­re­gu­lação de ho­rá­rios, a gra­tui­ti­dade das cre­ches para mi­lhares de cri­anças ou a ne­ces­si­dade de cri­ação de uma rede pú­blica de cre­ches.

Também não re­sol­ve­remos o pro­blema da de­ser­ti­fi­cação so­cial, eco­nó­mica e de­mo­grá­fica no In­te­rior se não se to­marem me­didas de cri­ação de em­prego, de apoio às MPME, de cri­ação de uma ade­quada rede de ser­viços pú­blicos e de mo­bi­li­dade, de efec­tivo or­de­na­mento do ter­ri­tório, de apro­vei­ta­mento de todas as imensas po­ten­ci­a­li­dades que são gi­gan­tes­ca­mente mais ricas e va­ri­adas que a sim­ples aposta no Tu­rismo. Como temos dito, não há de­sen­vol­vi­mento sem ocu­pação do ter­ri­tório e não há ocu­pação sem a cri­ação das con­di­ções ne­ces­sá­rias.

É im­pres­cin­dível uma po­lí­tica al­ter­na­tiva pa­trió­tica e de es­querda capaz de in­verter este rumo, para que, daqui a 10 anos, não te­nhamos que ser con­fron­tados com nú­meros que tra­duzam ainda mai­ores as­si­me­trias e acres­cidas di­fi­cul­dades para todo o País.

“Avante!”, 5 de Agosto de 2021