A des­lo­cação de Joe Biden a In­gla­terra para par­ti­cipar na ci­meira do G7 – Ca­nadá, França, Ale­manha, Itália, Japão, Reino Unido e Es­tados Unidos da Amé­rica – saldou-se como seria de es­perar por muita parra e pouca uva. Num faz de conta de que veio re­atar laços de co­o­pe­ração des­feitos por Trump, o pre­si­dente norte-ame­ri­cano anun­ciou aos «par­ceiros» o que já tinha sido de­ci­dido em Washington e fez voz grossa à China e à Rús­ssia, no que logo foi se­guido pelo afi­nado coro da União Eu­ro­peia e da NATO.

O de­no­mi­nador comum, para con­sumo pú­blico, pa­rece ter sido Alexei Na­valny, o opo­sitor de Putin preso na Rússia desde me­ados de Ja­neiro, a quem a Am­nistia In­ter­na­ci­onal re­tirou em Fe­ve­reiro a de­sig­nação de «pri­si­o­neiro de cons­ci­ência» de­vido às suas po­si­ções ra­cistas e xe­nó­fobas, como com­parar imi­grantes mu­çul­manos a ba­ratas e de­fender o porte de armas de civis para «re­sol­verem» o pro­blema. O mesmo Na­valny que em 2007, de­pois de ter sido ex­pulso do par­tido li­beral Ya­bloko por de­ne­grir a sua imagem, formou o pró­prio par­tido, Narod, e logo re­cebeu uma bolsa de es­tudo do Pro­grama Mau­rice R. Gre­en­berg da Uni­ver­si­dade de Yale, nos EUA, que forma lí­deres po­lí­ticos. E ainda há quem diga que não há coin­ci­dên­cias!

Vol­tando à reu­nião na Cor­nu­alha, cabe lem­brar que para além de varrer da zona os sem-abrigo que po­diam es­tragar a foto de fa­mília, serviu ainda para Biden dizer coisas de du­vi­doso tacto, como afirmar que a rainha, por quem foi re­ce­bido, lhe fazia lem­brar a mãe. O Pa­lácio de Buc­kingham não es­cla­receu se a mo­narca, que por acaso co­nheceu os 12 pre­si­dentes que an­te­ce­deram Biden e já «en­terrou» sete deles, apre­ciou a com­pa­ração, mas adi­ante.

No in­terim do que ver­da­dei­ra­mente in­te­ressa, o en­contro agen­dado para ontem com Vla­dimir Putin, na Suíça, a vi­agem do pre­si­dente norte-ame­ri­cano à Eu­ropa foi an­te­ce­dida de um gesto pre­ten­sa­mente mag­nâ­nímo: o anúncio da do­ação de 500 mi­lhões de doses de va­cinas contra a COVID-19 a países po­bres. Os con­vivas do G7 não se fi­caram atrás e do con­clave saiu a pro­messa de doar mil mi­lhões de doses aos mais des­fa­vo­re­cidos. Até podia pa­recer gran­dioso não fora o portal es­ta­tís­tico «Our World In Data» vir es­tragar a pin­tura com a in­for­mação de que en­quanto os países ditos de­sen­vol­vidos já va­ci­naram mais de me­tade da sua po­pu­lação com pelo menos uma dose de va­cina, nos países em de­sen­vol­vi­mento essa per­cen­tagem não chega a 1%.

E por falar em nú­meros, o Ins­ti­tuto para a Paz e a Eco­nomia acaba de di­vulgar que, no total, os con­flitos bé­licos cus­taram 14 400 mil mi­lhões de dó­lares por ano aos di­fe­rentes países en­vol­vidos, o que re­pre­senta 10,5 por cento do PIB mun­dial, ou seja 1895 dó­lares por pessoa, cinco dó­lares por dia.

Eis o mundo ca­pi­ta­lista no seu es­plendor.

“Avante!”, 17 de Junho 2021