“Troco a epidemiologia para cima e a epidemiologia para baixo por uma corridinha”
Diário de um fanático das corridas
Completámos no início deste mês um ano de COVID-19 em Portugal. Persiste a abordagem medieval de combate à doença: em vez de investirmos na higiene e segurança, confinamos; em vez de educarmos os cidadãos para a vida no espaço público, fechamos as pessoas em casa; em vez de colocarmos o interesse público à frente do interesse privado na vacinação da população, submetemo-nos aos ditames das Farmacêuticas.
O anunciado “Plano de Desconfinamento” insiste no erro, prolongar ao máximo o isolamento dos indivíduos em vez de lidar socialmente com a doença. As principais consequências desta opção são económicas e sociais, da quebra de rendimentos das pessoas à ruína das pequenas e médias empresas em sectores inteiros. Mas há também efeitos nefastos ao nível da saúde pública, nomeadamente na prevenção e tratamento de outras doenças.
Mas há mais, ao longo deste ano em vez da promoção da prática regular da actividade física, acarinhou-se o sedentarismo. Se inicialmente a técnica de suspender as actividades desportivas e fechar as pessoas em casa era compreensível, dado o desconhecimento da doença e a falta de capacidade de resposta dos serviços de saúde, um ano volvido e sabendo que a doença, provavelmente, vai ficar entre nós bastante mais tempo, é simplesmente insano. Então, e se na intemporal luta entre seres vivos e doenças isto demorar uns anos? Por um lado, a ciência desenvolvendo vacinas e medicamentos e o vírus novas e mais resistentes estirpes por outro. Vamos continuar a tratar a população como gado na cerca?
Apesar de não concordar com as regras, cumpro religiosamente, ao sábado e domingo, a prisão domiciliária decretada, circunscrevendo-me ao dito passeio higiénico próximo da habitação. Não consigo entender porque é que não posso fazer uma corrida até à praia, ir à Serra da Freita fazer uma caminhada, passear à beira mar ou no parque junto à Câmara de Espinho, apanhar sol nos bancos do campo da feira em Arouca. Porquê? A COVID ataca forte nesses locais?
Qualquer que seja o escalão etário o sedentarismo cresceu, facto que deveria merecer alguma reflexão. Será que um indivíduo saudável, que apanhe sol, que caminhe, que faça actividade física não estará em melhores condições de prevenir e enfrentar esta doença? Ou esta doença é tão especial que contraria tudo o que está escrito sobre prevenção da saúde, a tal promoção de estilos de vida saudável e de prática regular de actividade física?
Não me parece! Julgo mesmo que é tempo de arrepiar caminho. Não pertenço aqueles que falam em gerações perdidas e danos irreversíveis. Ainda não estamos aí, mas seria bom que mudássemos o chip, em vez de fugir da doença lidar com ela racionalmente. Substituir as horas de COVID na televisão por um passeio, bem mais largo que a proximidade da habitação, seria um bom começo.
Saia de casa, apanhe sol, passeie, caminhe, corra, ande de bicicleta, cumprindo as regras de segurança sanitária!
Não posso terminar sem uma referência ao PCP, completou 100 anos de existência no passado dia 6 de Março de 2021. Incontornável na nossa vida colectiva dos últimos cem anos.
“Discurso Directo”, 19 de Março de 2021