Etiquetas

No clamor das palmas
a médicos e enfermeiros,
a polícias e bombeiros,
apagou-se a cidade.
O nevoeiro denso cobre-a.
Alarmes e sirenes
de súbito calaram-se.
A sombra monstruosa
cegando os escombros.
O ruído do vento
desvaído apodrece
em ruas vazias e sigilosas
onde o pavor incendeia
As suas gélidas arestas.
Um cão perdido insiste
pelos passeios manchados,
fareja no asfalto
e ninguém espreita ninguém,
nem busca, nem maldiz.
Uma substância escura,
anónima, impalpável,
descendo noite e dia,
dissipando os confins
com os odores surdos
da desolação e da doença.
Somente o silêncio
nesta casa esfarrapada,
nesta rua destruída,
na andrajosa cidade
de um mundo que agoniza.
Misericórdia, SNS!

16.03.20
Álvaro Couto