Há uns anos atrás, num dia de forte invernia, deparei-me, numa rua da vila, com uma imagem curiosa, um vereador da Câmara Municipal de Arouca, sentado no carro, porta escancarada, debruçado sobre um caneiro a transbordar, chuçando furiosamente com o guarda-chuva para desentupir o dito. Passe o caricato da situação, o comportamento daquele autarca demonstrava uma preocupação em resolver um pequeno problema quotidiano.

Esta preocupação com as pequenas coisas, numa autarquia pequena e em declínio demográfico, como é o caso de Arouca, é fundamental.  Em 31 de Dezembro de 2018 o concelho tinha 20.861 residentes (*), bem longe dos 22.359 dos Censos 2011 e ainda mais dos 24.227 dos de 2001.

Uma preocupação que não resulta do estilo da governação e menos ainda do estilo de quem preside à autarquia. Aliás, não é uma postura frugal, como a de Armando Zola, ou um registo popular como o de Artur Neves ou um ar sofisticado como o de Margarida Belém o que determina ou não a existência dessa preocupação. É antes uma componente política da governação, uma opção de fundo.

A ideia que tenho é que essa preocupação já teve melhores dias. Julgo mesmo que as obras e o espectáculo trazidos pela governação de Artur Neves e continuados pelo actual executivo tiveram como reverso da medalha, da projeção dada a Arouca, o abandono deste tipo de preocupações, das pequenas coisas do dia-a-dia. Tudo o que não garanta projeção mediática parece não contar. Só que, como diz o povo, nem tudo o que reluz é oiro.

Bom, dirão alguns: mas isso são competências técnicas, dos serviços, e não políticas. Pois, é verdade! Em bom rigor os serviços têm feito o que podem. A questão, porém, é que o responsável político precisa de terreno, de ver o que falta nos caminhos, nos aceiros, nos caneiros. É terreno e não Território, o necessário, estar “Onde entre vinhas sobredos, vales socalcos searas, serras atalhos veredas” (só não há “lezírias e praias claras”).

Talvez seja tempo de, quem de direito, ler com atenção o que por estas páginas vai escrevendo, com conhecimento e bom senso, Celso Portugal, encontrando na sua coluna preocupações da terra e com a terra, da gente de cá, particularmente dos do lado B.

(*) INE, Anuário Estatístico da Região Norte, 18 de dezembro de 2019

 

 

Arouca, Fevereiro de 2020