No final do ano de 2019, lá para as bandas de Itália, caso nada tenha nascido entretanto, surgiu mais um movimento anti-sistema, as Sardinhas. No dizer dos protagonistas, as sardinhas (que enchem praças como sardinhas na canastra) são uma resposta ao populismo de Salvini, contra o ódio e pela harmonia, o que está bem, não se dizem de esquerda nem direita, como convém.
Estranhos dias estes, de equívocos e excitações. A um lado, nacionalismos vários (“populistas”), que se dizem contra as elites financeiras e liberais e pelos genuínos do povo-da-nação. A outro, fugindo, como o diabo da cruz, da identificação de esquerda, os das causas fragmentadas, muitas nobres até. Uns e outros contra uma tal “classe política”.
Entretanto, quem de facto manda nisto tudo, os da massa, sossegadamente lá vai acumulando enquanto o pagode se entretém com as causas de época. E o capitalismo (a sociedade de mercado, a sociedade de consumo) segue o seu rumo, espremendo os de baixo, como se nada fosse.
Os teóricos do sistema postulam: a sociedade de consumo está a dar lugar à sociedade de utilizadores. Deve ser nova categoria, sociologia do entretenimento. Consumir serviços em vez de produtos não representa nenhuma alteração de fundo na natureza da sociedade de consumo, as relações sociais continuam sob dominação das relações de mercado.