Mísseis estão caindo
e eu sentado frente à televisão
o dia todo.
Há gente morta pelo chão,
com o tempo fugindo
e cicatrizes por todo o corpo.
Em boa verdade, naquele espaço
não há um prédio de pé,
nem sequer há gente suficiente que disso faça fé,
enquanto sinto minha alma como o aço.

Não é ainda a guerra,
mas ela não espera . . .

Bem, meu senso de humanidade
já se foi pelo cano.
Atrás de cada rosto muçulmano ou americano,
sinto a dor e ganho algum tipo de parcialidade.
Entendo-me, então, frente à televisão,
quanto ao que esta guerra comporta:
quem esta guerra exporta;
a quem esta guerra importa.

Não é ainda a guerra,
mas ela não espera . . .

Frente à televisão, parece que me movimento
mas estou parado, nem me lembro mesmo
como vim aqui parar no meio desta gente,
com o meu corpo vago e dormente.

Porém, eu nasci aqui,
e aqui vou morrer contra a minha vontade,
sem sequer ouvir uma oração à humanidade.

Não é ainda a guerra,
mas ela não espera . . .

 

18.01.20
Álvaro Couto