Neste tempo que estamos a viver, complexo, difuso, assimétrico, deixo algumas reflexões que me parecem ser uma «emergência» pedagógica já agora que tanto alarido se faz acerca da emergência climática, como se isso fosse o principal problema com o qual estamos confrontados.
Sendo um dado adquirido que a maioria das pessoas dos países industrializados estão desligadas da Terra mas dependentes do sustento que de lá provém, é do Planeta Alimentar que devemos falar e com urgência. Mas aí duvido que isso fosse motivo para cobertura mediática e isto porque o capitalismo predador seria o principal acusado, enquanto que o tema das «alterações climáticas» pode ser utilizado a seu favor e, quem sabe, com grandes negócios pelo meio!… Não deixa de ser curioso que variações no clima do Planeta, com picos de temperatura por vezes prolongados e fenómenos extremos (que sempre existiram!), passassem agora a ser tema da actualidade para servir de biombo às graves consequências geradas pela globalização capitalista.
Um caso concreto para reflectir
Durante a recente campanha para as eleições legislativas apareceu na minha caixa do correio um panfleto de uma formação política dita de esquerda que elegeu como preocupação a emergência climática e aproveitou para dizer que a principal causa dos incêndios em Portugal são as alterações climáticas. Mas não, não são. A principal causa dos incêndios em Portugal está nas políticas agrícolas decididas em Bruxelas com o amém de Lisboa, inviabilizando economicamente a presença de agricultores no território, deixando como alternativa a monocultura do eucalipto, ou a emigração. Assim sendo, as afirmações descritas no referido panfleto ou são fruto da ignorância, ou escamoteiam as causas, absolvendo os causadores. Sempre tivemos verão quente, vento suão, ar seco, sempre tivemos incêndios, mas sem tragédia porque existiam agricultores e agricultura à volta dos perímetros florestais, não sendo necessários nem bombeiros nem aviões, as populações bastavam.