Há palavras que nos são impostas. Nas últimas décadas não houve nenhum noticiário ou comentador que tenha passado ao lado da palavra défice. O défice, tão distante do quotidiano dos portugueses, torno-se elemento de referência obrigatório para aferir a qualidade de governação. Entenda-se défice, como a diferença entre as receitas e despesas do Estado a dividir pela riqueza que o País produz durante um ano – PIB. Reduzir o défice, uma opção aparentemente aritmética (despedida de conteúdo de classe), tornou-se num «desígnio» nacional. Cada décima a menos um troféu, um novo passo no sentido da «sustentabilidade das contas públicas». Por causa do défice não se aumentam salários e pensões, não se constroem equipamentos, não se contratam trabalhadores que fazem falta. O défice apenas pode ser ignorado, quando se trata dos superiores interesses da «estabilidade do sistema financeiro», da «atratividade do investimento privado», dos «compromissos com os credores». Habituaram-nos assim!
O excedente – Vasco Cardoso
22 Domingo Dez 2019