Recentemente esteve novamente em debate a valia da retenção versus a da não retenção no ensino básico, desta vez no próprio plenário da Assembleia da República e em aceso despique entre António Costa e Rui Rio, com réplica generalizada nas colunas de opinião de jornais, televisões, rádios, blogues e redes sociais. A um lado juntaram-se os partidários “da sebenta e dos exames” (o rigor da Lusa Atenas), a outro os “dos projectos inovadores ” (a caça aos Fundos Europeus). Como diz um amigo meu: não sou a favor nem contra, antes pelo contrário. O problema não é o passa e chumba mas se os alunos aprenderam ou não.
Sobre a ideia em si, nesta contenda os primeiros não respondem à consequência de um sistema assente na retenção – o que fazer com os alunos que ficam para trás? -, os segundos à consequência de um sistema assente na não retenção – há recursos suficientes para responder à heterogeneidade dos grupos?
Sobre a realidade concreta o tiro é, também, ao lado, tem décadas na lei a “retenção como medida excepcional”, a pressão administrativa para a não retenção e o convívio destas com os exames e os rankings.
Temo que o fim das retenções seja um erro, não pela ideia em si mas porque se intenta num quadro de desinvestimento na Educação (em 2002 a despesa em Educação era 5,1% do PIB, em 2018 foi de 3,6% e o Programa do Governo não aponta para uma alteração de paradigma). O fim das retenções em vez de combater a reprodução social tenderá, de facto, a aumentá-la, contribuindo assim para o intemporal desígnio dos de cima, a “distinção”, conhecimentos para quem manda, competências para quem é mandado, em registo menos elegante, clássicos para a elite (nos colégios privados), macacadas para o povo (na Escola Pública).
É um debate de época. Curiosamente, apanhei a um céptico – qual cínico francês, da “Arca Russa” do Aleksandr Sokurov, imerso na culture do Hermitage -, decidido a permanecer na Modernidade sem entrar na Pós-modernidade, um exame de ingresso na Civilização, o qual aqui deixo acompanhado da respectiva solução:
I – Best seller ou Long seller?
II – Movies ou Cinéma?
III – “Bacalhau quer alho” ou Quarteto de cordas?
IV – Centro Comercial ou Teatro?
V – Cuspir no chão ou na sanita?
VI – Boçalidade ou Cortesia?
VII – Tu ou Senhor?
VIII – Eu ou Nós?
IX – Responder ou Perguntar?
X – Marques Mendes ou Maquiavel?
Se em alguma pergunta escolheu como resposta a primeira opção ESTÁ CHUMBADO.
Estudasse, meu caro, estudasse!
Arouca, 29 de Novembro de 2019