Há acontecimentos que são a delícia dos centros de produção ideológica do capitalismo e que dão asas aos que papagueiam o que aí se elabora. A «queda do muro de Berlim» é um deles, terreno fértil onde, com a impunidade dos que sabem que a mentira tem reconhecimento assegurado, se procura virar a história de pernas para o ar, manipular conceitos e falsificar factos. Terreno onde a alquimia ideológica dominante transforma o que de mais arcaico e conservador existe em resplandecente modernidade.
Um conhecido jornalista da Antena 1 não quis desperdiçar quinhão na narrativa anticomunista e no revisionismo histórico. Como deve acontecer em crónica que faça jus ao nome, não faltou o tom melodramático, o escorropichar de preconceituosos juízos ou o bornal de deturpações históricas, rematada com uma concludente asserção «começo da queda de um tempo da escuridão», que só não fica nos anais, malgrado a esforçada erudição posta no texto, porque a afirmação é em si mesmo um retumbante disparate.