“A vaca bebe muita água e faz muito cocó.”
Tobias Alecrim, 5 anos, pré-estudante e pan-activista
A turma da Greta, Ensaios.

Cento e sessenta anos depois da publicação de “A origem das espécies” de Charles Darwin e noventa e dois após Werner Heisenberg ter postulado “O princípio da incerteza” um sobressalto varreu a ciência no passado mês de Setembro, a funda reflexão de Tobias Alecrim sobre a vaca, as emissões de carbono e a pegada ecológica.

Reconheço a minha irritação após notícia de que o Magnífico Reitor da vetusta Universidade de Coimbra tinha decretado a proibição do consumo de carne de vaca aos alunos mais desfavorecidos da sua instituição. Contudo, a leitura da obra, cuja citação abre este texto, deu-me um novo olhar (inovador, moderno e feliz) sobre a matéria, que vê a abstinência da carne como o fim da história, a salvação do planeta e o nirvana dos indivíduos (todos).

Tobias Alecrim disseca: “as pessoas não devem comer carne de vaca” porque “a vaca bebe muita água” e depois “as pessoas não têm água para beber” e porque “a vaca come muita soja (através da ração)”, o que obriga a “queimar floresta e acaba com o tofu”. Numa consubstanciação invulgar num texto desta natureza, é-nos dado saber, em nota de rodapé, pela pena do pai do Tobias, professor universitário com 3 doutoramentos, que 200gr de Tofu Fumado Biológico Joya custam 2,49 euros nos hipermercados Continente.

Mas é na segunda parte do ensaio que chegamos ao busílis da questão: “o cocó e os pús da vaca têm muito metano” e “o metano é uma coisa muito má porque mata o planeta”, aproveitando o pai do Tobias, em mais uma fulminante nota de rodapé, para referir que não é possível reduzir a utilização do automóvel, nem deixar de comprar tofu e demais vegetais na Ásia, África, Américas e Oceânia e menos ainda combater o consumismo e o individualismo. O que faz falta, conclui, “não é lutar contra o consumismo mas substituir o que se consome”, “não é buscar a plenitude em Deus ou Epicuro, mas no EU através dos mestres de auto-ajuda”.

Na terceira e última parte de ensaio, Tobias Alecrim pinta-nos o horizonte que traça para o mundo, caso os poderes públicos e os filantropos privados (petrolíferas, celuloses, grandes superfícies…) “corrijam as pessoas antiquadas que estão a matar o planeta. Que belo será o dia em que veremos o lobo e o cordeiro felizes, lado a lado, pastando num prado verdejante”…(1)

Não é bem a viagem à Índia (Gonçalo M. Tavares), nem o eterno retorno (Mircea Eliade), mas o regresso ao Jardim de Infância e ao conto de fadas. E viveram felizes para sempre!

  • CAUTELAS NO DESMAME – Não abandonem o carnivorismo sem uns sarrabulhos na Cinda, Correlhã, Ponte de Lima!